terça-feira, 30 de junho de 2015

A Psicologia das Massas, Ou: Os Reacionários devem combater os idiotas, não os homossexuais



Na última sexta (26), a Suprema Corte Americana mais uma vez violou o princípio federalista e derrubou os vetos de treze Estados contrários aos casamento gay.  Nada de novo sob o céu. A prática do governo central em se intrometer em assuntos estaduais aprovando leis de âmbito nacional sem o consentimento do parlamento é prática antiga em todas as supostas democracias. Foi mais uma batalha perdida para o Estado de Direito, mas, convenhamos, já esperávamos que acontecesse.

O que não esperávamos foram as manifestações de vitória que ocorreram pelo globo por parte daqueles que de algum modo sentiram que era preciso comemorar. E em especial, não podiam faltar os brasileiros que, mais parecendo cegos e surdos para a realidade, comemoravam ontem a caminhada do homem sobre a lua, ou o fim da Segunda Grande Guerra. O país parece mesmo uma espécie de lixão geopolítico do mundo, onde comemora-se como novidade o mais novo pedaço de cultura descartada pelos outros. Não sei no exterior, mas por aqui, quanto menos se sabe de um assunto, mais as pessoas se sentem na necessidade de falar sobre ele.  

Desta vez as pessoas não saíram de suas casas para quebrar o patrimônio público e agredir agentes de segurança sem saber o motivo. Não colocaram sobrenome de tribo indígena porque ouviram dizer que estão ameaçados de extinção, tão pouco escreveram " #somostodosmacacos". O que despertou a necessidade de estar na moda e ser visto pelos demais como alguém preocupado com o mundo foi colorir a foto do perfil com as cores do arco-íris. Ressalvas se fazem necessárias nesse ponto, pois normalmente as pessoas não leem o que está escrito e não entendem o que está sendo explicado: até onde eu entendo, gays nascem gays, e não há nada que a religião, o Estado ou que quer que seja possa fazer contra essa verdade do universo. O alvo da minha crítica, como sempre, é o idiota, não o homossexual.

No geral, são os conservadores que precisam superar o nojinho contra homossexuais e perceberem que homossexualidade e ideologia gay são coisas diferentes. Adiante.

Então critico a moda? Não. O ser humano tem uma certa tendência em não querer ser muito diferente dos demais. A questão não é estar na moda, até porque cedo ou tarde todos estaremos. O ponto é como, do dia para a noite, o brasileiro entra de cabeça em uma manifestação que achou cool, sem saber de onde veio, onde está e para onde vai. Não estávamos chorando a morte do "famoso quem" cantor de sertanejo? Comportamento típico de manada, de massa. E massas são facilmente manobráveis. Tenho mais em consideração alguém que diz que coloriu-se porque achou bonito, daquele que, indagado sobre o motivo de escolher o que todo mundo escolhe, passa a inventar razões para agir como gado. Gente, vamos combinar: haviam treze estados contrários ao casamento gay, os outros trinta e sete já tinham aprovado. Os EUA são uma das nações onde homossexuais são contratados para séries, filmes, programas de TV e...palestras em igrejas, como podem ser uma nação opressora, que ridiculariza e oprime os gays? O casamento gay já tinha sido aprovado no Brasil em 2011, e legalizado em 2013, e só agora "o amor venceu"? O Estado Islâmico também comemora a decisão da Corte Americana arremessando homossexuais do alto de prédios. Não, parece que o amor não venceu - ainda.

É ainda mais coerente ver pessoas como Luciana Genro, Jean Wyllys e Erika Kokai comemorem a vitória de algo que se deu em um país ainda capitalista, ainda protestante e no qual não faltam críticas da esquerda brasileira. Gays e héteros podem colorir suas fotos, não em Cuba, Rússia ou Coréia do Norte, que eu saiba.

Brasileiro é assim mesmo. Entra de cabeça em algo que não sabe como surgiu, não sabe que organismos e interesses estão por detrás, não sabe como vai terminar, não sabe que o mesmo já se deu inúmeras vezes em outras terras, mas acredita piamente que é bom, porque é a onda do momento. O indivíduo dotado de necessidades coletivas, como aceitação e imagem, acaba sendo levado por todo e qualquer vento de doutrina. Ponto para as organizações e engenheiros sociais que conhecem os gatilhos que ativam a psicologia das massas. Preparam - há décadas - comportamentos e reações que agora boa parte da humanidade põe em prática.

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