sábado, 31 de agosto de 2013

Não há nenhum relato da época de Jesus sobre sua existência

(por Staks Rosch, do Examiner)

É bastante comum os cristãos afirmarem que há mais evidência da existência de Jesus do que a de outros personagens históricos, como Alexandre, o Grande, e George Washington. Mas isso não é verdade. 

O fato é que não há relatos da época de Jesus sobre ele. Observo, contudo, que Jesus, mesmo não tendo existido, não deixaria de ter a importância atribuída a ele. Eu estou bem ciente, por exemplo, de que Luke Skywalker [protagonista da trilogia Guerra nas Estrelas] é ficcional, mas ainda assim ele é para mim uma fonte real de inspiração.

Muitos cristãos pautam sua vida se perguntando “O que Jesus faria se estivesse em meu lugar?” Essa pergunta não perde a validade no caso de o Jesus não ter existido, porque ele, mesmo como ser imaginário, serve para inspirar um padrão de comportamento. Mas a maioria dos cristãos parece acreditar que a sua religião se tornaria uma farsa sem a crença de um Jesus histórico.

O que talvez explique por que, quando falo sobre a falta de relatos da época de Jesus, os cristãos se apressam a dizer que a maioria dos estudiosos aceita a sua historicidade. Mas a historicidade atribuída a Jesus se refere à fé cristã, à crença nesses dois mil anos de que ele foi real, porque, quanto aos testemunhos de contemporâneos, que são inexistentes, há poucas razões para se acreditar que ele tenha existido.

 Os cristãos costumam apresentar os evangelhos como provas da existência de Jesus. Isso é ridículo porque os evangelhos não são fontes da contemporaneidade dele. O Evangelho de Marcos, que é o mais antigo, foi escrito cerca de 65 anos depois de Cristo. Esse evangelho, diferentemente do que muitos acreditam, é de autoria desconhecida. Sabe-se também que outros evangelhos usaram o de Marcos como fonte primária, e ao longo de centenas de anos essas escrituras foram alteradas várias vezes.

 Os cristãos também afirmam que autores como Josephus, Tácito, Plínio (o Jovem) e Luciano de Samosata escreveram sobre Jesus. Não é bem assim, porque esses autores escreveram pouco sobre Jesus – do qual, aliás, não foram contemporâneos –, e ainda assim, quando o fizeram, se referiram a alguém chamado “Cristo”.

 Não há nenhuma evidência de que esse “Cristo” seja o dos cristãos. Muitas pessoas, em diferentes períodos históricos, se apresentaram com Cristo. Segundo informações do historiador James Tabor (http://jamestabor.com/), Josefo relatou que no primeiro século da nossa era uma meia dúzia de messias teriam aparecido na Palestina.

Foram todos crucificados pelos romanos. Josefo fala também de Tiago, irmão de Jesus, como líder do núcleo religioso que seguia os princípios do líder nazareno nessa época, que se acabou com a destruição de Jerusalém, na revolta judaica de 70 DC. Esta história reforça a existência de Jesus. Outra história foi a pregação de Paulo sobre o Cristo (messias, em grego) pelo império romano, que deu forma ao mito que persiste até hoje.

Os cristãos também afirmam que autores como Josephus, Tácito, Plínio (o Jovem) e Luciano de Samosata escreveram sobre Jesus. Não é bem assim, porque esses autores escreveram pouco sobre Jesus – do qual, aliás, não foram contemporâneos –, e ainda assim, quando o fizeram, se referiram a alguém chamado “Cristo. (alguns desses escritos foram falsificações grosseiras da ICAR.)

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Canis...


Lobo ou lobo cinzento (Canis lupus) é o maior membro selvagem da família canidae. É um sobrevivente da Era do Gelo originário durante o Pleistoceno Superior, cerca de 300 mil anos atrás. O sequenciamento de DNA e estudos genéticos reafirmam que o lobo cinzento é ancestral do cão doméstico (Canis lupus familiaris), contudo alguns aspectos desta afirmação têm sido questionados recentemente. Uma série de outras subespécies do lobo cinzento foram identificadas, embora o número real de subespécies ainda esteja em discussão. Os lobos cinzentos são tipicamente predadores ápice nos ecossistemas que ocupam. Embora não sejam tão adaptáveis à presença humana como geralmente ocorre com as demais espécies de canídeos,3 os lobos se desenvolveram em diversos ambientes, como florestas temperadas, desertos, montanhas, tundras, taigas, campos e até mesmo em algumas áreas urbanas.

O lobo cinzento, o lobo-vermelho (Canis rufus) e o lobo-etíope (Canis simensis) são as únicas três espécies classificadas como lobos. Os demais lobos pertencem a subespécies. O peso e tamanho dos lobos variam muito em todo o mundo, tendendo a aumentar proporcionalmente com a latitude, como previsto pela teoria de Christian Bergmann. Em geral, a altura, medida a partir dos ombros, varia de 60 a 95 centímetros. O peso varia geograficamente. Em média, os lobos europeus pesam 38,5 kg; os lobos da América do Norte, 36 kg; os lobos indianos e árabes, 25 kg.6 Embora raros, lobos com mais de 77 kg foram encontrados no Alasca, Canadá,7 e na antiga União Soviética. O maior lobo cinzento registrado na América do Norte foi morto em 70 Mile River, no leste-central do Alasca em 12 de julho de 1939 e pesava 79 kg,6 . Já o lobo de maior peso registrado na Europa foi morto após a Segunda Guerra Mundial na área Kobelyakski da região Poltavskij na RSS Ucraniana e pesava 86 kg. O lobo é sexualmente dimórfico, as fêmeas de uma população típica de lobos normalmente pesam 20% menos que os machos. As fêmeas também têm o focinho e a fronte mais estreitos, pernas ligeiramente mais curtas e revestidas com pelos lisos, e ombros menos massivos.6

Os lobos cinzentos medem de 1,30 a 2 metros do focinho à ponta da cauda, a qual, por sua vez, representa cerca de 1/4 do comprimento total do corpo. Embora tenha um olfato relativamente fraco ao ser comparado a outros canídeos, o lobo possui uma audição bastante apurada, a ponto de ser capaz de ouvir a queda de folhas das árvores durante o outono. Sua visão noturna é a mais aguçada da família dos canídeos.


 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lobo

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Moral como Antinatureza

 Moral como Antinatureza

Autor: Friedrich Nietzsche
Tradução: André Díspore Cancian
Fonte: Morality as anti-ature

  I 
Todas paixões têm uma fase em que são meramente desastrosas, em que aviltam sua vítima com o peso da estupidez – e uma fase posterior, muito posterior, em que se casam com o espírito, se “espiritualizam”. Antigamente, em vista da estupidez na paixão, declarava-se guerra à própria paixão, conspirava-se pela sua destruição; todos os velhos monstros da moral concordavam quanto a isto: il faut tuer les passions [1]. A fórmula mais famosa para isso encontra-se no Novo Testamento, naquele Sermão da Montanha, onde, diga-se de passagem, as coisas não foram de modo algum olhadas do alto. Nele é dito, por exemplo, particularmente em relação à sexualidade: “Se teu olho te escandaliza, arranca-o fora”. Felizmente nenhum cristão age de acordo com esse preceito. Destruir as paixões e os desejos, simplesmente como uma medida preventiva contra a estupidez e as conseqüências desagradáveis dessa estupidez – hoje isso se apresenta a nós apenas como outra forma aguda de estupidez. Não admiramos mais os dentistas que arrancam dentes para que não doam mais. Para ser justo, deve-se admitir, entretanto, que sobre o solo no qual o cristianismo se desenvolveu, o conceito de “espiritualização da paixão” nunca poderia formar-se. Afinal, a Igreja primitiva, como todos sabem, lutou contra os “inteligentes” em favor dos “pobres de espírito”. Como se poderia esperar dela uma guerra inteligente contra a paixão? A Igreja combate a paixão através do aniquilamento em todos os sentidos: sua prática, sua “cura” é a castração. Ela nunca pergunta: “como se pode espiritualizar, embelezar, divinizar um desejo?” Em todos os tempos colocou a ênfase da disciplina na extirpação (da sensualidade, do orgulho, do desejo de dominar, da avareza, da vingança). Mas um ataque às raízes da paixão significa um ataque às raízes da vida: a prática da Igreja é hostil à vida. 
[1] É necessário matar as paixões.
 
II 
Os mesmos meios na luta contra um desejo – castração, extirpação – são instintivamente escolhidos por aqueles que possuem uma vontade fraca demais, degenerada demais, para poderem impor a moderação a si mesmos; por aqueles que necessitam de La Trappe, para falar figuradamente, ou (sem figuras de linguagem) alguma espécie de declaração definitiva de hostilidade, um abismo entre eles e a paixão. Meios radicais são indispensáveis apenas para os degenerados; a fraqueza da vontade – ou, falando de modo mais preciso, a incapacidade de não responder a um estímulo – é em si apenas outra forma de degeneração. A hostilidade radical, a hostilidade mortal contra a sensualidade é sempre um sintoma merecedor de reflexão: ela nos permite fazer suposições concernentes ao estado geral de quem é excessivo desta maneira. 
Essa hostilidade, esse ódio, a propósito, alcança seu clímax apenas quando esses tipos carecem mesmo da firmeza suficiente para a cura radical, para a renúncia a seu “Diabo”. Deveria-se examinar toda a história dos sacerdotes e dos filósofos, incluindo a dos artistas: as coisas mais venenosas aos sentidos foram ditas não pelos impotentes, nem pelos ascetas, mas pelos ascetas impossíveis, por aqueles que realmente tinham uma necessidade enorme de ser ascetas.
 
III
A espiritualização da sensualidade é chamada amor: representa um grande triunfo sobre o cristianismo. Outro triunfo é a nossa espiritualização da hostilidade. Ela consiste num profundo reconhecimento do valor de se ter inimigos: em suma, significa agir e pensar de modo oposto ao que outrora era a regra. A Igreja sempre desejou a destruição de seus inimigos; nós, imoralistas e anticristãos, encontramos nossa vantagem nisto: que a Igreja existe. No âmbito da política a hostilidade também se tornou mais espiritualizada – muito mais sensível, muito mais pensativa, muito mais ponderada. Quase todo partido compreende que é de interesse à sua própria autopreservação que seus opositores não percam toda a força; o mesmo vale para políticos poderosos. Uma nova criação em particular – um novo Reich, por exemplo – necessita mais de inimigos que de amigos: somente na oposição ele sente-se necessário, somente na oposição ele torna-se necessário. Nossa atitude perante o “inimigo interior” não é de modo algum diferente: aqui também espiritualizamos a hostilidade; também aqui reconhecemos seu valor. O preço da fecundidade é ser rico em oposições internas; permanece-se jovem enquanto a alma não relaxa e anseia pela paz. Nada nos parece mais estranho que aquele desejo dos tempos antigos, o desejo cristão: a “paz da alma”; nada nos causa menos inveja que a vaca moral e a felicidade gorda da boa consciência. Renuncia-se à vida grandiosa quando se renuncia à guerra. 
Em muitos casos, certamente, a “paz da alma” é apenas um mal-entendido – algo diverso, para o qual falta um nome mais honesto. Sem mais rodeios ou preconceitos, vejamos alguns exemplos. A “paz da alma” pode ser, para alguém, a suave irradiação de uma rica animalidade no interior da esfera moral (ou religiosa). Ou o começo do cansaço, a primeira sombra da noite, qualquer espécie de noite. Ou o sinal de que o ar está úmido, de que os ventos do sul se aproximam. Ou uma inconsciente gratidão por uma boa digestão (por vezes chamada “amor aos homens”). Ou a obtenção da calma por um convalescente que sente um novo sabor em todas as coisas, e aguarda. Ou o estado que se segue de uma completa satisfação de nossa paixão dominante, o bem-estar de uma rara repleção. Ou a fraqueza senil de nossa vontade, de nossos desejos, de nossos vícios. Ou a preguiça, persuadida pela vaidade a exibir uma aparência moral. Ou o aparecimento da certeza, mesmo da certeza terrível, após uma longa tensão e sofrimento causados pela incerteza. Ou a expressão da maturidade e maestria em meio ao agir, criar, trabalhar e desejar – respirar tranqüilo, a “liberdade da vontade” alcançada. Crepúsculo dos Ídolos – quem sabe? Talvez também apenas um tipo de “paz da alma”. 
 
IV 
– Reduzo um princípio a uma fórmula. Todo naturalismo na moral – isto é, toda moral saudável – é dominado por um instinto vital; qualquer mandamento de vida é preenchido por um determinado cânone de “deves” e “não deves”; remove-se assim um elemento hostil e inibitório no caminho da vida. A moral antinatural – ou seja, quase toda moral que até agora foi ensinada, venerada e pregada – volta-se, de modo oposto, contra os instintos vitais: é uma condenação desses instintos, ora secreta, ora explícita e impudente. Quando ela diz “Deus observa os corações”, diz Não tanto aos desejos mais baixos quanto aos mais altos da vida, colocando Deus na posição de inimigo da vida. O santo com o qual Deus se encanta é um castrado ideal. A vida termina onde o “Reino de Deus” começa... 
V
Compreendendo o sacrilégio que tal revolta contra a vida representa, tal como se tornou quase sacrossanta na moral cristã, também se compreende, felizmente, outra coisa: o caráter fútil, aparente, absurdo e mendaz de tal revolta. Uma condenação da vida pelo próprio vivente no fim continua sendo apenas um sintoma de um tipo específico de vida: com isso a questão de ela ser justificada ou não nem chega ser levantado. Seria necessário posicionar-se fora da vida, e ainda conhecê-la tão bem quanto um,
quanto muitos, quando todos que a viveram, para que seja permitido mesmo tocar o problema do valor da vida: razões suficientes para compreendermos que esse problema é inacessível a nós. Quando falamos de valores, falamos com a inspiração, com a perspectiva das coisas que são parte da vida: a própria vida nos força a estabelecer valores; a vida mesma valora através de nós quando estabelecemos valores. Segue-se disso que mesmo aquela moral antinatural que concebe Deus como contra-conceito e condenação da vida é apenas um juízo de valor da vida – mas de que vida? De que tipo de vida? Já dei a resposta: da vida decadente, enfraquecida, cansada, condenada. A moral, tal como até aqui foi entendida – como por fim foi formulada uma vez mais por Schopenhauer, como “negação da vontade de vida” –, é o próprio instinto da decadência que se fez um imperativo. Ela diz: “Pereça!”; é uma condenação pronunciada pelo condenado. 
 
VI
Finalmente, consideremos quão ingênuo é dizer: “O homem deveria ser de tal ou de tal modo!” A realidade nos mostra uma encantadora riqueza de tipos, uma abundante profusão de jogos e mudanças de forma – e um miserável serviçal de um moralista comenta: “Não! O homem deveria ser diferente.” Esse beato pedante até sabe como o homem deveria ser: ele pinta seu retrato na parede e diz: “Ecce homo!(1)”Mas mesmo quando o moralista dirige-se a apenas um indivíduo e diz “você deveria ser de tal e de tal modo!”, ainda não deixa de ser ridículo. O ser humano, visto pela frente ou por trás, é um pedaço de destino, uma lei a mais, uma necessidade a mais para tudo que há de vir e será. Dizer-lhe “muda-te” é exigir que tudo seja mudado, mesmo retroativamente. E realmente houve moralistas conseqüentes que desejavam tornar o homem diferente, isto é, virtuoso – desejavam-no reformado à sua própria imagem, como pedante: e, para tal fim, negavam o mundo! Nenhuma pequena loucura! Nenhum modesto tipo de imodéstia! 
A moral, à medida que condena por sua própria causa, e não a partir dos interesses, considerações e pontos de vista da vida, é um erro específico pelo qual não se deve ter compaixão – uma idiossincrasia de degenerados que causou danos imensuráveis. 
Nós outros, nós imoralistas, pelo contrário, fizemos de nosso coração uma morada para todo tipo de entendimento, compreensão e aprovação. Não negamos facilmente; encontramos honra no fato de sermos afirmativos. Cada vez mais, nossos olhos se abrem a uma economia que necessita e sabe utilizar tudo que a sagrada insensatez do padre, a doentia razão do padre, rejeita – aquela economia na lei da vida que encontra alguma vantagem mesmo nas espécies mais repulsivas de pedantes, padres e virtuosos. Que vantagem? Mas nós mesmos, nós imoralistas, somos a resposta. 
[1] “Eis o homem”   

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O Mito de Narciso - A Fonte da Vaidade

Narciso era filho do deus-rio Cephisus e da ninfa Liriope, e era um jovem de extrema beleza. Porém, à despeito da cobiça que despertava nas ninfas e donzelas, Narciso preferia viver só, pois não havia encontrado ninguém que julgasse merecedora do seu amor. E foi justamente este desprezo que devotava às jovens a sua perdição.

Pois havia uma bela ninfa, Eco, amante dos bosques e dos montes, companheira favorita de Diana em suas caçadas. Mas Eco tinha um grande defeito: falava demais, e tinha o costume de dar sempre a última palavra em qualquer conversa da qual participava.

Um dia Hera, desconfiada - com razão - que seu marido estava divertindo-se com as ninfas, saiu em sua procura. Eco usou sua conversa para entreter a deusa enquanto suas amigas ninfas se escondiam. Hera, percebendo a artimanha da ninfa, condenou-a a não mais poder falar uma só palavra por sua iniciativa, a não ser responder quando interpelada.

Assim a ninfa passeava por um bosque quando viu Narciso que perseguia a caça pela montanha. Como era belo o jovem, e como era forte a paixão que a assaltou! Seguiu-lhe os passos e quis dirigir-lhe a palavra, falar o quanto ela o queria... Mas não era possível - era preciso esperar que ele falasse primeiro para então responder-lhe. Distraída pelos seus pensamentos, não percebeu que o jovem dela se aproximara. Tentou se esconder rapidamente, mas Narciso ouviu o barulho e caminhou em sua direção:

- Há alguém aqui?
- Aqui! - respondeu Eco.

Narciso olhou em volta e não viu ninguém. Queria saber quem estava se escondendo dele, e quem era a dona daquela voz tão bonita.
- Vem - gritou.
- Vem! - respondeu Eco.
- Por que foges de mim?
- Por que foges de mim?
- Eu não fujo! Vem, vamos nos juntar!
- Juntar! - a donzela não podia conter sua felicidade ao correr em direção do amado que fizera tal convite.

Narciso, vendo a ninfa que corria em sua direção, gritou:
- Afasta-te! Prefiro morrer do que te deixar me possuir!
- Me possuir... - disse Eco.

Foi terrível o que se passou. Narciso fugiu, e a ninfa, envergonhada, correu para se esconder no recesso dos bosques. Daquele dia em diante, passou a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. Evitava o contato com os outros seres, e não se alimentava mais. Com o pesar, seu corpo foi definhando, até que suas carnes desapareceram completamente. Seus ossos se transformaram em rocha. Nada restou além da sua voz. Eco, porém, continua a responder a todos que a chamem, e conserva seu costume de dizer sempre a última palavra.

Não foi em vão o sofrimento da ninfa, pois do alto, do Olimpo, Nêmesis vira tudo o que se passou. Como punição, condenou Narciso a um triste fim, que não demorou muito a ocorrer.

Havia, não muito longe dali, uma fonte clara, de águas como prata. Os pastores não levavam para lá seu rebanho, nem cabras ou qualquer outro animal a freqüentava. Não era tampouco enfeada por folhas ou por galhos caídos de árvores. Era linda, cercada de uma relva viçosa, e abrigada do sol por rochedos que a cercavam. Ali chegou um dia Narciso, fatigado da caça, e sentindo muito calor e muita sede.

Narciso debruçou sobre a fonte para banhar-se e viu, surpreso, uma bela figura que o olhava de dentro da fonte. "Com certeza é algum espírito das águas que habita esta fonte. E como é belo!", disse, admirando os olhos brilhantes, os cabelos anelados como os de Apolo, o rosto oval e o pescoço de marfim do ser. Apaixonou-se pelo aspecto saudável e pela beleza daquele ser que, de dentro da fonte, retribuía o seu olhar.

Não podia mais se conter. Baixou o rosto para beijar o ser, e enfiou os braços na fonte para abraça-lo. Porém, ao contato de seus braços com a água da fonte, o ser sumiu para voltar depois de alguns instantes, tão belo quanto antes.

- Porque me desprezas, bela criatura? E por que foges ao meu contato? Meu rosto não deve causar-te repulsa, pois as ninfas me amam, e tu mesmo não me olhas com indiferença. Quando sorrio, também tu sorris, e responde com acenos aos meus acenos. Mas quando estendo os braços, fazes o mesmo para então sumires ao meu contato.

Suas lágrimas caíram na água, turvando a imagem. E, ao vê-la partir, Narciso exclamou:

- Fica, peço-te, fica! Se não posso tocar-te, deixe-me pelo menos admirar-te.

Assim Narciso ficou por dias a admirar sua própria imagem na fonte, esquecido de alimento e de água, seu corpo definhando. As cores e o vigor deixaram seu corpo, e quando ele gritava "Ai, ai", Eco respondia com as mesmas palavras. Assim o jovem morreu.

As ninfas choraram seu triste destino. Prepararam uma pira funerária e teriam cremado seu corpo se o tivessem encontrado. No lugar onde faleceu, entretanto, as ninfas encontraram apenas uma flor roxa, rodeada de folhas brancas. E, em memória do jovem Narciso, aquela flor passou a ser conhecida pelo seu nome.

Dizem ainda, que quando a sombra de Narciso atravessou o rio Estige, em direção ao Hades, ela debruçou-se sobre suas águas para contemplar sua figura.