1. Introdução
Atualmente grande parcela da população mundial possui acesso a algum
tipo de informação, seja ela por meio de rádio, televisão, internet, ou
qualquer outro meio de comunicação midiático, isto se deve a
globalização, que tem como função principal a facilitação da comunicação
global. Com o passar do tempo, essas ferramentas de diálogo tão
prósperas se resumiram a uma indústria de imagens, consolidando assim, a
chamada Sociedade do Espetáculo.
Segundo Maria Rita Kehl (2004), nesta sociedade o que se configura
determinante para a existência do homem, é sua imagem. Passado por um
processo sócio-histórico, o homem, com a invenção de tantos recursos
visuais se tornou um ser de aparências, no qual a visibilidade dá ao
indivíduo o certificado de que o mesmo existe, sendo este proporcionado
pela mídia.
Portanto, ser visto e reconhecido pelo outro, confere ao indivíduo
status e identidade, fazendo com que o mesmo deixe de ser meramente um
anônimo, ou até mesmo um ser invisível. O advento da televisão e do
computador, juntamente com as possibilidades que estes abriram, foi o
marco preponderante para permitir ao sujeito existir por meio da imagem.
Debord (1998) traduz bem a atual situação, segundo ele, a sociedade
passou por duas fases distintas: Na primeira para SER era preciso TER, e
na segunda que se trata da contemporaneidade, é a sociedade do
espetáculo, em que é preciso TER para PARECER, e isso nada mais é do que
uma forma de dominação da economia capitalista. Contudo, a dominação
pelo aspecto econômico já está consolidada e por isso, tem-se agora a
dominação pela imagem, onde a mídia nada mais é do que a soma dos
poderes políticos e econômicos. É a mídia ordenando o que se precisa ter
e consumir e ao mesmo tempo, organizando o tempo e lazer das pessoas.
Marcondes Filho diz que aparecer, mostrar-se na televisão tornou-se
tão importante, pois o mundo real está cada vez mais distante. O contato
pessoal, a intimidade com o outro são consideradas coisas do passado,
nesta era da internet.
Para Calligaris (2007), “a invisibilidade é mais intolerável do que a
prisão”. Segundo o autor, diferentemente do que o leigo entende por
narcisismo, ou seja, o sujeito egoísta que se ama, e adora se ver no
espelho, a personalidade narcísica, tem como fator determinante a
insegurança .E por isso, o narcisista vive se perguntando se os outros
gostam dele, se ele é amado pelos seus familiares, enfim, ele depende
do “ olhar do outro”, para se enxergar. Sendo assim, na visão deste
autor, “não estamos vivendo na sociedade do cada um por si, e sim em uma
sociedade em que cada um depende do outro”, onde só nos constituímos
como sujeitos “SE”, o outro nos reconhece como tal.
Marcuse (1998) salienta que com a desestruturação da família
burguesa, o individuo antes socializado e formado por ela, também entra
em decadência. Agora, o ego do individuo é formado não mais pela
família, mas sim pela indústria cultural. Desta forma, o individuo
identifica-se com a sociedade, porém sem critica, uma vez que ele não
está apto para isso, pois foi socializado para não identificar as
contradições e por conseqüência para que não tenha uma consciência
critica. O pai antes o líder da família, é agora substituído pelos
ídolos produzidos pela indústria cultural.
1.1 Objetivo
O objetivo é refletir sobre o impacto da indústria cultural no
cotidiano das pessoas, analisando os aspectos de consumerismo e como se
processa a imagem que tornam-se identificação formando o dito sujeito
contemporâneo
1.2 Relevância
A relevância reside em estudar a sociedade em que o consumo é
cultuado e incentivado, o sujeito desejante de reconhecer-se inserido
neste mundo, pode vir a abdicar de sua verdadeira identidade, em função
da identidade de marca, tornando-se assim, uma espécie de robô
programado para consumir. Isto, para uma realidade tão perversa como a
brasileira, em que a distância que separa ricos e pobres é uma das
maiores do planeta, pode ser causa de inúmeras doenças psicopatológicas,
tais como, sentimento de incapacidade, depressão, dentre outras. Outro
fator digno de análise é a inadimplência.
2. Consumo
Conforme Marcondes (1985), a mídia não é simplesmente uma forma de
manipulação das massas e/ou uma forma de explorar o público por meio da
sedução das “modinhas” apresentadas nas telas, rádios e internet, mas o
que se passa nestes veículos de comunicação vão ao encontro de
necessidades reais do público, por exemplo, o fascínio que a mídia
exerce nas pessoas através da fantasia (que é confundida com o real,
como sugere Augé, 1994: “(...)
Não é mais a ficção que imita o real, mas o real que reproduz a ficção”), que é uma via facilitadora de acesso e desejo do consumo.
Isto se dá, pois a necessidade do “ter” e do “possuir”, é uma das
principais características da sociedade em que nos encontramos
atualmente, em que a partir do momento que o indivíduo se sente seduzido
por dado objeto, seja ele qual for, há certa pressão para que este
consuma independentemente da sua real necessidade, formando assim uma
espécie de necessidade aparente, ou seja, o que um indivíduo consome não
é necessariamente o que ele precisaria consumir para sua sobrevivência
como ser humano, mas sim, para sobreviver em dado grupo e/ou sociedade
(culturalmente falando).
“A mídia serve ao Senhor do Capital, que tem a função de promover
novos desejos e necessidades. Cada produto anunciado não é apenas uma
coisa material, ele é envolvido de carga emocional, a indústria cultural
tem como função promover necessidades constantes, novas formas de
apresentação, porém baseando nos velhos esquemas” (GARÇÃO, apud ADORNO).
O que a mídia, tenta vender é a felicidade através do consumo. Porém
para Marcuse ( 1979), a felicidade é incompatível com o modo de vida
capitalista, o pensamento otimista paralisa, porque não nega a
realidade, mantêm-se preso a uma ilusão. Mas, esta ilusão precisa ser
mantida, os sujeitos precisam acreditar na realização individual,
precisam acreditar que têm controle sobre a sua vida, que possuem
liberdade de escolha, quando na verdade esta pretensa liberdade é mais
uma das categorias ideológicas, pois acreditando que têm poder de
decisão, os indivíduos não resistem ao controle imposto pelo sistema.
Isto implica em que o individuo precisa consumir para se constituir como
sujeito.
“... a crença na independência radical do ser individual em relação
ao todo nada mais é do que uma aparência. A própria forma do indivíduo é
a forma de uma sociedade que se mantém viva em virtude do mercado
livre, no qual se encontram sujeitos econômicos livres e independentes.”
(HORKHEIMER & ADORNO, 1973, p. 53)
De Sales e Maldonado, elaboram um estudo sobre o consumo de produtos
piratas e vêem que o consumo, principalmente da moda, estabelece uma
distinção clara de classes sociais, e que a pirataria fenômeno do sec.
XX, permite a discussão sob dois ângulos distintos: o da exclusão, uma
vez que as classes menos favorecidas não têm acesso aos produtos de
luxo, e o da inclusão, feita através dos produtos pirateados. Para isso,
realizam uma pesquisa e dão-se conta que o consumo de produtos piratas
não se dá exclusivamente pelas classes menos favorecidas, mas também por
aqueles que embora tenham condições econômicas para isso, não têm
acesso aos produtos originais, por residirem em cidades onde essas
marcas não são comercializadas. A marca dos produtos, por si só é capaz
de estabelecer a distinção entre ricos e pobres, se antes o consumo do
produto se dava pela necessidade e pela qualidade, agora este consumo se
faz através dos logotipos que identificam a classe social de seus
consumidores, com a clara intenção de estabelecer o distanciamento entre
as classes sociais, através do consumo de produtos caros , porque é
feito para poucos. Por outro lado, temos as classes menos favorecidas
economicamente , que com a clara intenção de imitar o estilo de vida dos
mais favorecidos, buscam os produtos piratas, como forma de
identificação e simbolicamente de inclusão. As grandes marcas, investem
pesadamente em marketing, afim de diferenciar seu produto, conferindo a
seus possuidores status,beleza e poder, mas embora esta publicidade seja
dirigida a um público específico ( que detêm poder de compra), introduz
nas classes menos favorecidas o desejo, por estes mesmos produtos que
são proibitivos para eles. Desta forma, estabelece-se o consumo à nível
simbólico, onde o consumo tenta suprir a falta ( o faltante /desejante
na fala Lacaniana) .Por isso, o produto pirateado , pode ser visto como
uma forma de inclusão .Para os países que fabricam os produtos piratas é
uma forma de gerar emprego e renda, enquanto para os consumidores, é
uma maneira de atingir pertencimento, se sentir mais próximo da elite
formadora de opinião, o que de outro modo, não seria possível, tendo em
conta a enorme distância entre o poder de compra da elite e os demais
membros da sociedade.As autoras concluem que o absurdo aumento no
consumo de produtos pirateados, está longe da necessidade, e
encontra-se situado no campo do sonho e da ilusão de alcançar o status
da classe dominante, no desejo do “TER para SER “ . Conforme Shakespere
(apud De Sales e Maldonado)
Oh, não discutam a “necessidade”! O mais
pobre dos mendigos possui ainda algo de supérfluo na mais miserável
coisa. Reduzam a natureza às necessidades da natureza e o homem ficará
reduzido ao animal: a sua vida deixará de ter valor.
A subjetividade é uma aspecto pessoal de cada indivíduo, mas é algo
que não pode ser compreendido isoladamente da sociedade na qual o
indivíduo esta inserido, para constituir essa subjetividade, o sujeito
passa por um processo de compreensão da sociedade, onde é influenciado
pela cultura existente nela.
Para Adorno, quando o sujeito sublima
seus impulsos ele esta contribuindo para o desenvolvimento da cultura e
sociedade, tendo em vista que a consciência individual é que forma a
consciência coletiva. Se cada sujeito fizesse o que desejasse, seria
impossível viver e conviver em sociedade. Segundo Adorno e Horkeimer,
não existe um conceito puro de individuo e de sociedade, já que um não
existe sem o outro e ambos conceitos não podem ser desvinculados.
A cultura em si pode ser classificada como uma relação complexa entre
a sociedade, o individuo e as relações humanas. Weber dizia que o homem
é um animal amarrado em teias de significados que ele mesmo teceu, a
cultura é um exemplo de teia criada pelo homem, ele mesmo criou e é
rodeado por ela.
Ao nascer, a criança é inserida em uma sociedade e consecutivamente a
uma cultura, esse treinamento cultural infantil não é só importante
para o seu desenvolvimento particular, mas para todo equilíbrio da
sociedade. A cultura pode ser considerada como uma adaptação do homem à
sociedade.
Na visão de Freud, a cultura serve para proteger o homem das
intervenções das natureza e facilitar as relações humanas. Para ele,
essa acomodação não é tranqüila, ele relata em sua obra “O mal estar na
civilização” o processo de acomodação dos desejos do sujeito na cultura
em que esta inserido. Tanto para Freud quanto para os Frankfurtianos, o
individuo renuncia a satisfação total de seus desejos por exigência da
realidade social o que resulta em sofrimento para o mesmo.
Com o avanço tecnológico, foi propiciado ao homem uma cultura de
consumo. A pseudo formação transforma a cultura em uma pseudocultura
reduzindo-se a bens de consumo.
2.1 Identidade
A noção de identidade, no âmbito psicológico, é um processo continuo
de elaboração de um conceito estável de si mesmo como individuo e adoção
de um sistema de valores que promove um senso de direção. É um processo
no qual se forma a auto-imagem, a integração das idéias sobre si e
sobre o que os outros pensam de você. Um dos componentes que promove a
elaboração da identidade do individuo é o processo de identificação com o
outro ou com modelos de referencia. Seu desenvolvimento envolveria
busca por auto-afirmação, papéis e inserções nas estruturas sociais,
formando-se princípios e valores orientadores de conduta, resultando, em
geral, numa afirmação pessoal e social, de que se é alguém, e de que se
ocupa um lugar no mundo.
A noção de identidade implica também, na construção de um senso de
direção, de uma estrutura psicológica e emocional que possa promover
certa noção de equilíbrio de atitudes, valores e princípios norteadores
para que o indivíduo consiga assumir a vida adulta e social, que lhe é
pedida pelo desenvolvimento físico, psicológico e social a que todos
estão sujeitos, elaborando um quadro psicológico diante de si, do mundo e
dos outros.
Para Ciampa a principal motivação do consumidor é a busca de uma
identidade própria, pois consumindo é que adquire uma identidade, a sua
forma de interagir com o mundo está ligada a sua auto-identidade, como
ele se vê e como os outros o vêem, realizando uma troca de identidades. A
busca pela satisfação, não deixa espaço para a reflexão, o que leva a
uma desconstrução, fragmentação do sujeito e uma perda de referências.
A lógica capitalista busca igualar a todos. A mesma lógica se
perpetua para o resto, se você é pobre é porque não trabalha o
suficiente. Com isso a industria cultural promove segundo Adorno e
Horkheimer a “homogeneização das consciências”. Isso faz com que os
sujeitos passem a se esforçar e trabalhar mais, atendendo assim, a
necessidade do sistema, e o sistema se utiliza do homem para circular
mercadoria. Não existe nenhuma tecnologia criada para o beneficio do
homem, ela existe para atender as necessidades do sistema. E é este
pretenso caráter de neutralidade, que permite a ideologia.
Os meios de transporte e comunicação em massa, as mercadorias,
casa, alimento, roupa, a produção irresistível da indústria de diversão e
informação, trazem consigo atitudes e hábitos prescritos, certas
reações intelectuais e emocionais, que prendem os consumidores aos
produtos. Os produtos doutrinam, manipulam, promovem uma falsa
consciência. Estando tais produtos à disposição de maior número de
indivíduos e classes sociais, a doutrinação deixa de ser publicidade
para tornar-se um estilo de vida (MARCUSE, 1982, p.31 e 32).
O fetiche é criado pela própria mercadoria com seu poder de sedução,
na qual ela trará prazer e satisfação, que gera uma necessidade no
indivíduo mesmo que esta não exista. Mas isso não se dá de forma
inconsciente, pois o indivíduo quer fazer parte da massa, ele precisa
ter e consumir aquilo que os outros têm e consomem para tentar se
igualar ao outro, e esse comportamento é captado pelo marketing para
manipular o desejo do indivíduo. A indústria cultural obtém assim, uma
homogeneização dos comportamentos, e a massificação do sujeito.
Poder comprar é o que classifica o sujeito a um determinado grupo
social, gerando um desejo enorme de se ter para poder ter uma identidade
parecida com o outro, o qual é motivo de inveja. Se antes valorizava o
SER, hoje valoriza o TER (BAUDRELLARD, 1995).
Para Marcuse, a dominação funciona como administração total das
necessidades e prazeres, escravizando o homem no trabalho e no lazer,
preenchendo o tempo livre dos indivíduos com programações dirigidas,
fabricando uma humanidade apta a consumir objetos inúteis, cuja
obsolescência fora desejada. (apud, NAZÀRIO, 1998, p.84).
As pessoas querem CONSUMIR estilos de vida, em busca da satisfação
desejada frente à frustrante realidade. Estilo de vida pode ser definido
como mais ou menos uma série de práticas, da qual os indivíduos
abraçam, não apenas por satisfazerem necessidades úteis, mas porque elas
dão forma material para uma narrativa particular de auto-identidade.
São práticas rotineiras, as rotinas incorporadas aos hábitos de vestir,
comer e modos de agir.
A gama de informações e pressões a que estão submetidos às pessoas
inseridas na faixa dos que são capazes de consumir, é enorme. Isso causa
não só uma angústia, por maquiar um perfil a ser aceito socialmente,
mas denuncia o vazio ao qual estão submetidos, haja vista o processo de
anulação dos quais muitos se revestem em prol de uma aceitação social. A
sociedade contemporânea, diluída e efêmera, constrói padrões de
aceitabilidade social que conflitam com o perfil almejado por muitos
indivíduos. Comentando sobre a cultura do consumo, as pessoas gastam um
dinheiro que não possuem, para comprar coisas que não necessitam, para
impressionar pessoas que não conhecem. ( este trecho também não cita a
fonte de onde foi extraída ).
2.2 Mídia e Cotidiano: A Propaganda
Rocha e Castro, discutem neste artigo a interação entre mídia,
cultura e consumo, como parte integrante do modo de vida contemporâneo.O
entretenimento, as paisagens audiovisuais, o espetáculo e a
estetização do cotidiano, são vistos como norteadores dos padrões
econômicos e socioculturais do mundo moderno, bem como a visualidade e a
sonoridade, como estruturantes da subjetividade e do discurso do
sujeito, que se por um lado, desfaz a crença em uma subjetividade
nata e imutável, por outro cria uma subjetivação hegemônica,
padronizada.
O entretenimento, oferecido pela mídia, reproduz um cotidiano
espetacular , de forma a produzir uma identificação entre o espectador e
as representações sociais e ideológicas, por ela veiculado. Seus
tentáculos, se estendem sobre a sociedade, a política e a economia,
como também influencia a moda, a arquitetura, os esportes, as artes, e
outros. A globalização e a tecnologia atuam nas práticas cotidianas
através da propaganda e dos anúncios veiculados. As autoras citam
Debord, para justificar o espetáculo como um processo pensado de
passividade e alienação, em que a mercadoria tomou o lugar da vida
social, e Kellner que entende que nem sempre a mídia atinge seu objetivo
de manipulação, e desta forma, não se pode atribuir a mídia tamanho
poder de determinação, pois “
o público pode resistir aos significados e mensagens dominantes, criar sua própria leitura e seu próprio modo de apropriar-se”
(2001:11) dos produtos midiáticos. Segundo este autor a mesma mídia
oferece os instrumentais, para que o sujeito se oponha aos modelos
hegemônicos . O consumo é uma das formas de nos constituirmos como
sujeitos, de nos igualarmos ou nos diferenciarmos do outro. O sujeito
não obedece a normas rígidas de consumo, pois obedece a impulsos de
ordem “individual e intersubjetiva”. O poder da mídia reside em
centralizar informação, entretenimento e negócios em um único
espetáculo, que através do marketing e da propaganda serve para
disseminar tendências, estilo e comportamento. A necessidade frenética
de visibilidade é segundo as autoras de natureza existencial, já que
ao transformar tudo e todos em imagens, se perde a noção de realidade,
bem como a percepção do mundo e de si mesmo , adentrando para um mundo
de ilusão. E ao adentrar para este mundo de ilusão, o espectador, se
distância do seu cotidiano real. A imagem é a representação da malha
cultural na qual o individuo se deseja inserido “imagens/sensações e
imagens/estilos de vida “. Por outro lado, neste mundo onde a
visibilidade permeia a identidade do sujeito, é imprescindível a
mediação das máquinas , uma vez que elas são essenciais para que o
sujeito enxergue não só o externo do outro, como o interno dele mesmo.
Adorno chama de indústria cultural o que se chamava anteriormente de
"cultura de massas", sendo que esta, não é um tipo de cultura que
aparece espontaneamente do povo; nem o que é chamado de cultura popular.
A indústria cultural é uma produção voltada para o consumo das massas
com um produto preestabelecido. Em outras palavras, existe uma
inter-relação estreita entre a produção e o consumo, onde a primeira
determina o que deve ser consumido e a segunda determina o que deve ser
produzido . Por exemplo, para um determinado público, produz-se um
acessório considerado “moda”, este acessório como é taxado de “moda”,
torna-se algo “extremamente importante e necessário para se consumir”,
enquanto há uma demanda de consumo, há uma produção intensa daquele
acessório, pois a produção depende do consumo (ADORNO, 2002).
Tratando-se de termos culturais, essa inter-relação faz com que
aquilo que é culturalmente produzido (o que está na “moda”),
assemelhe-se a qualquer produto industrializado (Por exemplo, uma calça
jeans “da moda”, é exatamente igual a qualquer outra calça jeans, exceto
pelo desejo e especulações criadas em cima do que está visado naquele
momento), incluindo toda uma estratégia de marketing com o objetivo de
levar esse produto ao público consumidor. Para a indústria cultural,
tanto faz que esse produto seja uma “pulseirinha” que apareceu no braço
da atriz principal da novela das oito, promovida pela mídia eletrônica
globalizada, um show de um cantor pop ou outro produto qualquer, que
tenha gerado nas massas a necessidade de consumo. O que realmente
importa é que esse produto desperte o desejo e chegue às massas. Os
produtores de marketing, a partir de toda essa exagerada estratégia de
divulgação e consumo destes produtos podem propiciar a manipulação dos
meios de comunicação, onde os grandes veículos integrados a uma boa
propaganda colorida e musical possuem o poder de influenciar, a fim de
criar, no público-alvo, novas necessidades de consumo e, também, novos
produtos.
A mídia pareceria entender, pois, um dos aspectos mais
transparentes da iniciativa privada, ou seja, a mutabilidade constante
do produto a ser vendido. Essa assertiva indicaria que os manejadores da
mídia, dela conhecendo os caminhos por vezes escusos, podem ter passado
por empresas as mais diferentes e participado do esforço do marketing
visando ao lançamento de produtos, entendendo-se do creme dental a um
trator. Contaminado, esse agente que manobra a mídia, ou dela
integrante, incensará hoje um músico do "povão", que será fatalmente
substituído amanhã. (MARTINS, 1993:15).
3. Método
Leituras sobre o tema, considerando os autores contemporâneos. Analisar as entrevistas considerando o referencial teórico.
Pesquisa bibliográfica deve reunir um conjunto de autores – os mais
renomados possíveis para a discussão da questão que tenham publicado
conteúdos que fundamentem uma discussão teórica.
O pesquisador deve saber articular as informações coletadas,
articulando-as com um nível de análise critica, não meramente
descritiva.
Pesquisa bibliográfica antecede às pesquisas
documentais, de campo, laboratório, representando o elemento chave de um
estudo exploratório sobre o assunto a ser estudado.
A Análise do discurso, busca interpretar a “ entrelinha “, aquilo que
está oculto, entre a língua e a fala. È através do discurso que o
sujeito atua sobre o mundo, constrói uma interpretação.
“Analisar
o discurso é fazer com que desapareçam e reapareçam as contradições, é
mostrar o jogo que nele elas desempenham; é manifestar como ele pode
exprimi-las, dar-lhes corpo, ou emprestar-lhes uma fugidia aparência”
(FOUCAULT, 2005, p. 171).
O sentido do discurso, não pode ser abstraído do seu momento
histórico, pois é construído pela interação verbal, e mantendo intima
relação com a ideologia, sendo assim, o sentido do discurso, não pode
ser dado
a priori. Desta forma, o que se busca na análise do
discurso , é aquilo que atravessa, que está além das palavras, os atos
falhos segundo Freud.
Para Heller ( 1989), é através da linguagem que o homem constrói a
sua subjetividade, dando sentido às suas experiências e vivências ,
sendo portanto um lugar de conflitos, já que não pode ser entendida fora
da sociedade na qual o sujeito está inserido.
Segundo Foucault “não importa quem fala, mas o que ele diz não é
dito de qualquer lugar” (2005, p. 139). Ou seja, ele fala de um lugar
de representação social, onde interpreta ao mesmo tempo, vários papéis,
por isso mesmo atravessado pela ideologia.
4. Considerações Finais
Através da análise das entrevistas, concluímos que diferentemente de
nosso pressuposto original o marketing não “ cria” o desejo de consumo,
corroborando , a posição de KELLNER ( 2001) que entende que nem sempre a
mídia atinge seu objetivo de manipulação, e que não se pode atribuir a
mídia tamanho poder de determinação, pois “o público pode resistir aos
significados e mensagens dominantes, criar sua própria leitura e seu
próprio modo de apropriar-se” (2001p. 11) dos produtos midiáticos.
Segundo este autor a mesma mídia oferece os instrumentais, para que o
sujeito se oponha aos modelos hegemônicos . O sujeito não obedece a
normas rígidas de consumo, pois obedece a impulsos de ordem “ individual
e intersubjetiva “. O poder da mídia reside em centralizar informação,
entretenimento e negócios em um único espetáculo, que através do
marketing e da propaganda serve para disseminar tendências, estilo e
comportamento.
No que tange a origem do consumo, havíamos partido da leitura
marxista de que com o advento da Revolução Industrial, o aumento da
oferta e o barateamento dos produtos , propiciou um aumento no consumo,
ou seja, a mercadoria gerando a necessidade de nova mercadoria, num
ciclo vicioso que alimenta o capital. No entanto, segundo a pesquisadora
TASCHNER ( 1997) o consumo de bens supérfluos tem sua origem nas cortes
européias, tendo inicio na idade média e seu apogeu no
absolutismo( Sec. XIV à XVII) . “ É o padrão de consumo desenvolvido
por esse segmento - que depois se populariza através de um processo de
mimetismo pelas camadas sociais que se situam mais abaixo dele - que
parece estar na base da cultura do consumidor.” (p. 08). Este consumo,
vem em substituição aos troféus e títulos de nobreza, servindo para
diferenciar o seu possuidor dos demais e desta forma , chamar a atenção
do rei , o que pode ser traduzido como símbolo de prestigio.
“Uma vez admitido no círculo encantado da corte, um nobre teria de
gastar ruinosamente para permanecer lá. Ele precisava de roupas bordadas
com fios de ouro e prata e de jóias brilhantes para usar nos bailes; um
estábulo para cavalos e uma matilha de cães de caça; carruagens com
interior de veludo e painéis pintados para que pudesse acompanhar o rei
em migrações para outros palácios; casas e mobília adequadas para que
ele pudesse oferecer jantares e festas dançantes para a corte; e dúzias
de valets e empregados para tornar todo o resto possível. Com raras
exceções os cortesãos contraíam dívidas imensas... [e então] dirigiam-se
ao monarca para obter ajuda financeira” (p. 20/21).
Sendo assim, a cultura do consumo se dá à partir do momento em que
não os bens, mas a
imagem desses bens se torna acessível a todos na sociedade.
Temos então, que “ os homens, preocupam-se em manter ou construir
certa imagem. Formar, nos outros, uma representação de si. (...). Daí a
necessidade de uma identidade mediadora. Que nos permita comunicar quem
somos. Que garanta a ilusão de um ser imutável e conhecível. ( MEUCCI,
p. 1), esta identidade mediadora, é feita através do consumo.
Sendo assim, concluímos que a formação da identidade do sujeito, não
se dá através do consumo, mas é através dele que o sujeito constrói a
sua identidade virtual, a forma com que se apresenta e quer ser
reconhecido, que segundo Goffman, esconde as marcas de suas
vulnerabilidades.
Escrito por:
Adalto Pedreira, Carolina Ovalle, Caroline Dutcovsky,
Juliana Ivantes, Lais Mortean, Leonardo Bourroul, Marcelle Xanthopoylos,
Maria de Lourdes Palmieri, Sthefanny Ferrari, Thais Peixoto |
Publicado em: 20 de Agosto de 2011.