sábado, 14 de setembro de 2013

Saramago, Arthur e outros mitos!


Confesso ser fã de carteirinha do escrito português, prêmio nobel de literatura, José Saramago. E pra variar, a entrevista de lançamento de seu mais novo livro (Caim - pela Editora Cia das Letras ao custo de 36 reais) que aliás eu recomendo, o velho mais uma vez incendiou conceitos. Vou reproduzir alguns trechos da entrevista que o jornal Zero Hora Zero Hora publicou em 2009 ( antes dele morrer ), para depois escrever sobre os mitos, que serão meu assunto de hoje. " Caim é um livro escrito contra toda e qualquer religião.

Ao longo da história, as religiões, todas elas, sem exceção, fizeram à humanidade mais mal que bem. Todos sabemos, mas não extraímos daí a conclusão óbvia: acabar com elas. Não será possível, mas ao menos tentemo-lo. Pela análise, pela crítica implacável. A liberdade do ser humano assim o exige." Prossegue o escritor de 87 anos: " Deus não existe fora da cabeça das pessoas que nele creem. Pessoalmente, não tenho nenhuma conta a ajustar com uma entidade que, durante a eternidade anterior, ao aparecimento do universo nada tinha feito (pelo menos não consta) e que depois decidiu sumir-se não se sabe onde.

O cérebro humano é um grande criador de absurdos. Deus é o maior deles." Então falemos hoje de mitos. Para os estudiosos de mitos e folcloristas, entre os quais eu destaco o Nico Fagundes, os mitos são cósmicos, ou seja universais e atemporais. Não se localizam no tempo e no espaço. Referem-se normalmente a fatores fenomenológicos como a natureza e suas forças, a criação do mundo, do homem e da mulher, o bem e o mal e etc. Os mitos nada mais são do que histórias de um certo lugar contadas pelo seu próprio povo.

O povo conta seus mitos para fazer a sua autobiografia e para eternizar suas memórias. Os mitos são depoimentos feitos sobre si e para si mesmo, portanto, a rigor, trata-se de uma confissão e a Igreja descobriu a importância do confessionário muito antes que o Freud criasse a psicanálise que inventou o divã do analista. Ou seja, depor sobre nós mesmos é catártico.

 Não sendo folclorista, acredito que desde que descemos daquela primeira árvore primitiva, começamos a criar mitos na medida em que cresciam nossas perdas e ficavam cada vez mais evidenciadas nossas fraquezas e nossos limites. Precisávamos de um pai super poderoso, que ilimitado nos impusesse limites e nos oferecesse a metáfora da eternidade, uma vez que não conseguíamos combater a morte. Criamos Deus. Com ele surge sua antítese, quase seu alter-ego, ou seja o Diabo.

E depois a coisa continuou. Querem ver?? A Inglaterra é campeã de mitos que surgiram em decorrência da opressão que assolou a história do bretões. A Bretanha ocupada por Roma precisava de um mito. Criou-se Arthur e seus cavaleiros da távola redonda. Arthur, ou Artourius, guerreiro bretão romanizado, haveria de surgir para libertar o povo do invasor e para evitar invasões futuras, principalmente dos povos do norte (germânicos, etc...).

Depois, com a Inglaterra orfanizada pelas aventuras do Rei Ricardo na terra santa, criou-se o mito de Robin Hood. O pai do pobres, justiceiro e paternalista, pois aos filhos dava o pão. Pessoalmente, acho que Arthur encantou-se mais com as curvas da bretã Guenevere do que com as colunas de Roma e por isso ficou por lá. E Robin, deve ter sido um dos tantos ladrõezinhos populistas que aparecem sempre que o povo fica órfão de pai e mãe.

Até hoje existe né??? ou não?? Bem...tem um outro mito que surgiu igualmente no seio de um povo invadido e dominado por Roma.Mas este, não tinha armas nem era douto nas artimanhas da guerrilha. Contudo, era um enviado por obra e glória do senhor de todos os mitos, tendo inclusive nascido de uma virgem, vivido como milagreiro e com poderes de cura sobre todos os males, e morrido para que todos vivessem, ressuscitando no terceiro dia. Enfim... ainda precisamos muito de mitos. Somos cada vez mais órfãos que desacreditam na própria evolução. Esse Saramago era doido...risos Fraterno abraço

Por André Lacerda- Psicanalista

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