quarta-feira, 25 de maio de 2011

Sobre os anúncios da ATEA

A ideia que dirigiu o conjunto dos anúncios da campanha dos ônibus foi a tentativa de traduzir, em todos eles, tanto a luta contra o preconceito como uma pequena expressão do que pensam os ateus. Essas posições obviamente vão de encontro ao pensamento religioso, mas entendemos que não há como convivermos em paz sem conhecermos uns aos outros, e atualmente os ateus são desconhecidos da sociedade: eles se dividem entre invisíveis e demonizados. O preconceito não acabará enquanto nós e nossas ideias formos desconhecidos para o público.

Esconder o que pensamos seria desonesto. Ter um lugar à sociedade significa também que nossos pontos de vista têm o mesmo direito de exposição que todos os demais, atentando sempre para críticas em tom civilizado dirigidas às ideias, e não a pessoas.

Entendemos que nenhuma das peças que exibimos é ofensiva. Faz parte do caráter educativo da campanha a mensagem de que não há nada de errado em expor suas discordâncias com os princípios religiosos, em público ou reservadamente. A indignação que os anúncios podem causar está ancorada na presunção de que discordar ou criticar ideias equivale a desrespeitar pessoas - ao menos no campo religioso. Isso está errado. Todas as ideias podem ser criticadas e debatidas. E é claro que isso inclui o ateísmo.

Aqueles que nos acusam de fazer aquilo que criticamos devem atentar para o fato de que não lutamos contra as críticas ao ateísmo, mas contra a associação de ateus - que, devemos lembrar, são pessoas - à criminalidade, à imoralidade e atos hediondos. Não vemos os religiosos como inferiores e jamais afirmamos isso. Mas temos o direito de expressar nossos pontos de vista, mesmo de maneira assertiva.

Há séculos nossa sociedade vem aceitando como perfeitamente naturais as afirmações que jorram dos púlpitos e dos palanques de que ateus são maus e religiosos são bons. No entanto, a maior parte das pessoas se choca com nossas mensagens educadas que não denigrem ninguém. Esse é um duplo padrão que precisa acabar. A respeito disso, leia o texto Ofensa: qual o padrão?



"Somos todos ateus com os deuses dos outros"

O preconceito só existe enquanto se vê o outro como inferior. Apontar as semelhanças que temos, portanto, é um meio eficaz de destruir essa lógica. A peça mostra de maneira clara que ateus e monoteístas compartilham da mesma descrença com relação à imensa parte dos deuses, e divergem somente a respeito de um deles. Quando um teísta percebe que também enxerga quase todas as divindades como mitos, ele pode com mais facilidade se colocar no lugar de um ateu, e vê-lo como igual. Ao mesmo tempo, o contexto do anúncio coloca todos os deuses em pé de igualdade, sugerindo que todos eles são criações humanas.



"Religião não define caráter"

Os grupos que são vítimas de preconceito sempre sofreram com a afirmação de que são imorais: é o caso de mulheres, negros, homossexuais, e particularmente forte no caso de ateus. A palavra "ímpio", por exemplo, significa tanto "ateu" como "cruel" ou "que ofende os pais, a moral, a justiça" - assim como, no vocabulário do racista, "de preto" é sinônimo de ruim. Reza o preconceito que religiosidade significa bondade e ateísmo significa maldade. O anúncio pretende apontar como ambos os estereótipos são falsos.



"A fé não dá respostas. Só impede perguntas."

Essa mensagem contém mais do que parece à primeira vista. É a única em que a crítica ao pensamento religioso parece estar em primeiro plano, o que é reforçado pela imagem sugerindo que a fé é uma prisão. Mas a frase se opõe ao preconceito que emana da fé. Ele é reforçado diariamente nas igrejas com as declarações de padres e pastores, cardeais e papas. A nova versão internacional da bíblia contém 298 versículos citando a palavra ímpio, mostrando que é um assunto recorrente. Ali os ateus são descritos como a epítome da maldade e naturalmente todos são instados a se afastarem deles. É por fé que os religiosos sustentam a veracidade desses textos, e é por fé que reproduzem esses comportamentos. Portanto, a crítica à fé é condição necessária para desmontar o preconceito que ela alimenta. É a fé que impede perguntas fundamentais como "meu livro sagrado descreve os ateus como maus; isso será mesmo verdade?"



"Se deus existe, tudo é permitido"

A frase é uma contraposição à ideia muito popular de que a moralidade é impossível, inexistente ou sem sentido em um mundo sem divindades. Conjugada à imagem, ela aponta que a existência de divindades não cria automaticamente uma moral absoluta porque, assim como existe uma infinidade de deuses, vários deles "únicos", cada um deles vem com seu próprio sistema moral absoluto - e são todos diferentes entre si. Mesmo entre os que concordam com a existência de um mesmo deus, existe enorme multiplicidade de interpretações sobre o que é moral ou não.

O avião se chocando com o World Trade Center não significa que todos os muçulmanos ou que todos os religiosos são homicidas-suicidas, mas que a existência de um ou mais deuses traz consigo tantas visões morais diferentes que sempre é possível achar alguma que justifique aquilo que se deseja. Poderíamos ter usado uma imagem de tortura da Santa Inquisição, descrições das Cruzadas, afirmações da igreja católica contra o direito ao divórcio ou contra o uso de preservativos e o planejamento familiar, ou qualquer outra insanidade que vem de um imperativo religioso, mas a queda das torres gêmeas traduz a mensagem de uma maneira visual mais apropriada para o veículo em questão.



FONTE: http://www.atea.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=222&Itemid=118

________________________________________________________________________

Nenhum comentário:

Postar um comentário