quinta-feira, 26 de março de 2015

O inconsciente como corpo no diálogo de Nietzsche com a Psicanálise


Por: Pedro da Cunha Ramos


Sempre que pode o paciente reclama da forte dor que sente nas costas, ou 
melhor, sempre que o médico visita seu leito na enfermaria. Diz ao médico que gostaria 
muito de ter alguém por perto que pudesse ajudá-lo a suportar este sofrimento. 
Entretanto, quando não há mais ninguém por perto e o efeito da medicação 
aparentemente cessa, o paciente não torna isso público para a equipe de enfermagem e 
suporta a queimação e o inchaço que sente tomarem conta de sua carne. Entre violentos 
espasmos e relaxamentos tão súbitos que fazem seu corpo parecer tomado por uma 
força desconhecida, se lamenta pela vida que levou procurando erros que reforcem a 
crença de que seu sofrimento é justificável e que seu corpo paga como justo merecedor 
pelos erros cometidos por seu espirito.

Saber se este paciente tem ou não alguma religião e também ter a capacidade de 
apurar em que nível suas dores tem uma causalidade psicossomática ou fazem parte de 
sintomas provenientes de uma causa estritamente orgânica são de grande importância 
para que se obtenham progressos em seu tratamento, tanto do ponto de vista 
psicoterapêutico quanto do ponto de vista cirúrgico. Entretanto buscar tal conhecimento
sempre que pode o paciente reclama da forte dor que sente nas costas, ou 
melhor, sempre que o médico visita seu leito na enfermaria. Diz ao médico que gostaria 
muito de ter alguém por perto que pudesse ajudá-lo a suportar este sofrimento. 
Entretanto, quando não há mais ninguém por perto e o efeito da medicação 
aparentemente cessa, o paciente não torna isso público para a equipe de enfermagem e 
suporta a queimação e o inchaço que sente tomarem conta de sua carne. Entre violentos 
espasmos e relaxamentos tão súbitos que fazem seu corpo parecer tomado por uma 
força desconhecida, se lamenta pela vida que levou procurando erros que reforcem a 
crença de que seu sofrimento é justificável e que seu corpo paga como justo merecedor 
pelos erros cometidos por seu espirito.

Saber se este paciente tem ou não alguma religião e também ter a capacidade de 
apurar em que nível suas dores tem uma causalidade psicossomática ou fazem parte de 
sintomas provenientes de uma causa estritamente orgânica são de grande importância 
para que se obtenham progressos em seu tratamento, tanto do ponto de vista 
psicoterapêutico quanto do ponto de vista cirúrgico. Entretanto buscar tal conhecimento
sobre o paciente não deve se tornar uma espécie de clínica do ateísmo e muito menos do 
“milagre psicossomático”. No campo da saúde a novidade se revela como uma 
constante, e isso pode ser notado nos problemas cotidianamente encontrados por seus 
profissionais e nas respostas muitas vezes inusitadas que estes dão a tais problemas. 
Neste sentido, o caminho do dogmatismo e do reducionismo pode ser em última análise 
mortífero, uma vez que o que se quer é dar conta de uma realidade como a do corpo que 
está permanentemente atravessada e disputada por diversos saberes, técnicas e 
discursos.
A noção de “Confins”, como elaborada no livro “Os Confins da Psicanálise e a 
Crueldade das Incertezas”, é oportuna para exemplificar a partir da Psicanálise o que 
seria uma

...“preocupação em curso no campo psicanalítico de ver 
elaborado um discurso aberto à intercomunicabilidade constante 
com outros de igual importância heurística, colocando em 
evidência dimensões indissociáveis capazes de produzir, por meio 
de modulações específicas de seus elementos constitutivos, 
fenômenos psicopatológicos singulares”

É a partir desta metodologia que se pretende produzir o encontro do pensamento 
de Nietzsche com a clínica, escapando do exercício meramente comparativo que pode 
ser feito entre a psicanálise e o pensamento nietzschiano.
Mesmo tendo em vista que termos como inconsciente e consciente são 
recorrentes em ambas as perspectivas de pensamento e que o próprio Freud disse ter 
sido Nietzsche um dos primeiros psicanalistas, o que se visa não é constatar uma 
mutualidade reflexiva entre estes pensadores. Pelo contrário, a partir desse binômio 
provisório (Nietzsche e Psicanálise), o que se quer é situar o corpo como um problema 
geral do saber, encorajando assim interlocuções crescentes e ainda não previstas no 
campo da psicopatologia fundamental e mesmo para além deste. 

Desde o “Nascimento da Tragédia” está presente na obra de Nietzsche um 
diagnóstico da “décadence” ocidental, que progressivamente vai caracterizando o que o
filósofo identifica como a excessiva valorização da razão (consciente) constituída 
fundamentalmente a partir de dualismos como bom e mal, certo e errado, ideal e 
imperfeito. 

A presença do dualismo no pensamento ocidental para Nietzsche data desde a 
filosofia antiga e encontra no idealismo platônico sua coroação como sistema 
interpretativo da realidade. Tal sistema, apropriado pela filosofia cristã, difundiu...



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http://www.psicopatologiafundamental.org/uploads/files/v_congresso/mr_36_-_pedro_da_cunha_ramos_et_ali.pdf


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