domingo, 21 de agosto de 2016

A geração dos imaturos para sempre


Estamos vivendo um movimento que lembra a força de uma epidemia. Vivemos cercados de pessoas acometidas por uma espécie de mistura de “Síndrome de Peter Pan”, com “Complexo de Cinderela”, mais uma pitada de “Jeito Pateta de ser” e um tiquinho de “Meu sonho é morar na Disney”. Isso até seria engraçado, se não fosse assustador. E trágico.

Há pessoas que simplesmente não encontram o caminho da maturidade. E nem é que não queiram crescer ou estejam perpetuando a adolescência para além dos trinta, quarenta ou cinquenta anos porque decidiram que é assim que tem que ser. Não! Nada disso!

Simplesmente não sabem como fazê-lo. Existe uma legião de perdidos num limbo da infância emocional eterna, alimentados por um estilo de educação familiar que não percebe o quão danoso pode ser a qualquer um de nós, ser poupado a todo custo de sofrer frustrações, de lidar com as negações, de enfrentar a vida por si mesmo.

Há milhares de famílias, que vão desde os menos favorecidos até os mais abastados, que insistem em criar seus filhos como se eles – os pais – fossem durar para sempre. Alimentam suas crianças e jovens com infinitas mamadeiras de dependência emocional, sob o pretexto de garantir que seus rebentos sejam absolutamente felizes, sempre felizes, todos os dias, o tempo todo.

O resultado de tamanha alienação é a ocorrência de meninos e meninas, que serão meninos e meninas para toda a eternidade. Recém-nascidos para sempre, que esperneiam quando algo não sai do jeito que esperavam. Que amarram a cara, quando não são imediatamente atendidos. Que não fazem a menor ideia de como todas as coisas que os cercam vão parar em suas mãos.

Meninos e meninas com vida sexual ativa. Meninos e meninas que não sabem dar importância ou valorização para a formação acadêmica. Meninos e meninas que chegam à vida adulta, sem ter a menor ideia do quanto de dinheiro é necessário para mantê-los. Meninos e meninas que se consideram adultos o suficiente para beber, para fumar, para amanhecer na rua e voltar para suas casas a hora que bem entenderem. Alguns com carteira de motorista em mãos, mas sem juízo suficiente para sentar-se atrás de um volante ou no banco de uma moto. Muitos, sem nenhuma noção de compromisso e responsabilidade. Perdidos.

E, não, não estou falando que as pessoas precisam viver de forma rígida e azeda. Não estou falando que é proibido ser alegre. Não se trata de não ter o direito de ser criança, ou jovem e se divertir e aproveitar essas fases tão maravilhosas e absolutamente necessárias para que um dia, surja um adulto inteiro.
O grande nó para o qual eu convido a uma boa reflexão é o fato de que estamos assistindo passivamente a inúmeras crianças e incontáveis jovens, sendo privados da experiência fantástica que é passar por essas fases e estar disposto a entrar em outras. Outras fases, tão ricas e bonitas quanto são aquelas pelas quais passamos em nossos anos iniciais.

Crescer é um direito! Amadurecer é tomar posse da própria vida. É ter a chance de fazer escolhas. É experimentar o prazer de andar com as próprias pernas. E errar. E acertar. E tentar outra vez, outra coisa, de outro jeito. Tenhamos a amorosidade necessária para abrir mão de congelar nossos filhos num tempo em que, depois de um tempo, o que era encantador certamente será ridículo. Tenhamos a sabedoria para dar a mão às nossas crianças na travessia da vida, sabendo que vez ou outra é com as mãos livres que se deve andar.


Por Ana Macarini


quinta-feira, 11 de agosto de 2016

A Diferença Entre Querer Morrer e Querer Que a Dor Pare


Eu não quero morrer.

Eu só queria que a dor parasse: a dor que rodeava e apertava meu peito, o peso que envolveu meu cérebro na sombra, a agonia que transformou todo o mundo em escuridão.

Eu precisava disso para cessar a dor.

Não foi um grande trauma que me convenceu que a morte era a minha única opção, mas uma série interminável de pequenas dores que roubaram a minha esperança. A pressão da vida quotidiana tornou-se um assalto implacável: uma mão pesada sobre meu ombro que me esmagava.

Uma manhã eu tive uma discussão menor com meu marido e, como diz o  provérbio sobre colocar mais lenha na fogueira, essa discussão me deixou em pedaços.

E então eu decidi que tinha apenas uma escolha que fazia algum sentido. Senti que todo mundo estaria melhor sem mim.

Eu fiz um plano. Eu escrevi cartas para a minha família. Chorando, telefonei para o meu amado irmão para dizer adeus.

Entretanto, levou poucos momentos para ele compreender o que eu estava fazendo e, em seguida, rapidamente, ele entrou em ação. Ele me cortou, desligou na minha cara e chamou meu marido imediatamente.

Meu marido correu de seu prédio de escritórios e, frenético, me procurou usando um aplicativo em seu telefone. Ele chamou um policial. Chamou a ambulância. Levou-me para o hospital.

Deram-me uma bebida lamacenta em um copo de papel enquanto eu estava deitada na maca, e eu chorei.

Eu não quero morrer.

Eu só queria que a dor parasse.

A escuridão que eu tinha mergulhado era muito espessa. Eu não conseguia mais enxergar meus filhos.

Eu não conseguia mais enxergar a vida que eu tinha construído com o homem que eu havia escolhido 25 anos atrás. Eu não podia enxergar minha família, os irmãos que me conheciam desde o nascimento, os pais que me apoiaram desde antes que eu pudesse lembrar. Eu não podia enxergar meus amigos, que teriam ficado extremamente entristecido comigo se eu tivesse de deixá-los.

Eu não podia ver o amor.

Havia amor em volta de mim, mas esse amor foi empurrado pela escuridão, com força despejado de minha consciência pelo preto sufocante.

No hospital psiquiátrico, eu estava cercada por pessoas cujas experiências foram muito parecidas com o minha. Ouvi histórias familiares. Eu aprendi novas formas de lidar com a minha dor. Percebi que tinha opções. Mais importante, porém, vi que não estava sozinha.

Eu tenho ajuda.

Eu tenho um bom diagnóstico e fui colocada sob medicação que funcionou como um raio de luz no meu cansado cérebro, confuso. Isso não aconteceu da noite para o dia. Levou algum tempo para encontrar as doses certas e as prescrições corretas, mas eu perseverei. Eu mantive firmemente a esperança de que o antídoto certo para a escuridão poderia ser encontrado.

Eu não quero morrer.

Eu só queria que a dor parasse.

E ela parou.

Lenta, mas seguramente, com a terapia e o tempo, a dor parou.

Estou aqui hoje para lutar junto com você: Não desista.

Há uma razão para que você esteja lendo isso agora, neste exato momento no tempo. Esta é uma mensagem que você precisa ouvir. Você não está sozinha. O próprio mundo anseia para você ficar, anseia para você permanecer. A Terra está chamando. Ouça! Lá está, no calor dos raios do sol em cima de seu rosto virado para cima, na brisa fresca que acaricia sua pele, no canto de um pássaro, a maravilha de folhas e flores. A mensagem está lá para ouvir. A Terra está implorando para você não desistir.

Para toda escuridão há um facho de luz pelo qual é possível andar, basta apenas que os olhos sejam liberados do desespero.

Buscar. Falar com alguém. Há amor lá fora; há amor ao seu redor. Só porque você não pode sentir isso agora não significa que ele se foi. Não acredite na escuridão. Ele é uma mentirosa e uma ladra.
Estou feliz por estar aqui hoje.

A chuva cai e o sol brilha. Posso ver meus filhos rirem e chorarem e lutar e crescer. Meus pais estão agradecidos. Meu marido é cuidadoso. Meus irmãos me apoiam. Meus amigos me querem bem. Todo dia eu vejo o amor que eu não podia ver antes.

Eu acreditava nas mentiras que a escuridão me falou, e eu tentei tirar minha vida.
As vezes a vida ainda é uma luta. As vezes o amor parece desaparecer e parece estar longe. Há dias em que eu acordo desanimada e me sinto derrotada. Tem dias que eu ainda quero deixar este mundo (e todas as suas tribulações) para trás. Mas eu continuo colocando um pé na frente do outro, e eu agarro a esperança. Eu falo com os que me rodeiam. Eu tenho um boa noite de sono. Um novo dia amanhece. Eu me sinto melhor.

Eu não tinha que morrer para que a dor parasse.

Você também não tem que querer.


Texto original: The Difference Between Wanting to Die and Wanting the Pain to Stop / By Jennifer Wilson