quarta-feira, 25 de setembro de 2013

E você pensa que é humano...

Vai na Igreja, é cristão, se julga bom samaritano, faz yoga, acha que é ecológico, dá dinheiro para o criança esperança... Mas não cumprimenta seu vizinho, não diz bom dia para seu porteiro, trata como um qualquer sua doméstica, cuida de seu cachorro como ele fosse objeto, tem preconceitos com o diferente... Reveja seus conceitos, suas ideologias... Educação, respeito, convivência com pessoas/animais se constroem com amor, empatia e compreensão, e não com achismos ideológicos de vivências hipócritas, onde a desculpa para o erro é a cultura... O ser humano acha que sabe o que é amor, mas nem ao menos sabe o que é o ódio, vivem em  um mundo egocêntrico onde sentimentos já se  materializaram há muito tempo .

Escrevendo essa analogia e tomando um vinho branco seco, encontro as palavras do velho Bukowski, ideias niilistas que entram um pouco de acordo com meu notório pensamento desta noite: "Todas aquelas pessoas. O que estão fazendo? O que estão pensando? Todos nós vamos morrer, que circo! Só isso deveria fazer com que amássemos uns aos outros, mas não faz. Somos aterrorizados e esmagados pelas trivialidades, somos devorados por nada."

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Corpo...


Nosso corpo faz parte da construção dos sintomas, do sofrimento psíquico sempre expresso também através do corpo, um corpo erógeno, sempre marcado pela presença de outro humano, desde o nascimento.


Do corpo pulsional, erógeno, nos chegam solicitações extremas, empuxos à satisfações chamadas pulsionais (e, não, instintuais, apenas), para as quais o Eu tem que encontrar uma saída, mediando entre as exigências pulsionais que nos vem desde nosso interior, e aquelas vindas do meio, das regras de convivência social, do que nos dita a sociedade e suas leis. Num mundo onde o que é propriamente socializante não mais vigora como tal, deixando cada um à deriva quanto as suas pulsões, o corpo erógeno perde seus limites.

 Quando não podemos mais contar com a mediação vinda desde o Eu, em suas necessárias relações com o meio cultural em que vivemos, a única saída para as tensões pulsionais torna-se fazer o corpo sofrer, na tentativa de fazer parar o sofrimento que incide sobre o Eu. 

O corpo erógeno, pulsional, necessita do meio para poder fazer sintomas, como apelos a uma nova forma de satisfação que não prejudique nem ao Eu nem ao meio; o corpo erógeno, pulsional necessita do outro para encontrar um caminho de satisfação que não prejudique nem ao Eu nem ao meio. Estamos condenados a lidar com nosso corpo e a produzir encontros que nos permitam mediar o que emerge do corpo como demanda imperiosa de satisfação, às expensas da vida e da sobrevivência psíquica do sujeito. 

A pulsão só busca satisfação, a qualquer preço. O humano é, inevitavelmente, convocado a ser mediador de si mesmo. Do interior pulsional, ninguém pode fugir. 


(Evelin Pestana, Casa Aberta - Página, Psicanálise, Artes, Educação).

sábado, 14 de setembro de 2013

Saramago, Arthur e outros mitos!


Confesso ser fã de carteirinha do escrito português, prêmio nobel de literatura, José Saramago. E pra variar, a entrevista de lançamento de seu mais novo livro (Caim - pela Editora Cia das Letras ao custo de 36 reais) que aliás eu recomendo, o velho mais uma vez incendiou conceitos. Vou reproduzir alguns trechos da entrevista que o jornal Zero Hora Zero Hora publicou em 2009 ( antes dele morrer ), para depois escrever sobre os mitos, que serão meu assunto de hoje. " Caim é um livro escrito contra toda e qualquer religião.

Ao longo da história, as religiões, todas elas, sem exceção, fizeram à humanidade mais mal que bem. Todos sabemos, mas não extraímos daí a conclusão óbvia: acabar com elas. Não será possível, mas ao menos tentemo-lo. Pela análise, pela crítica implacável. A liberdade do ser humano assim o exige." Prossegue o escritor de 87 anos: " Deus não existe fora da cabeça das pessoas que nele creem. Pessoalmente, não tenho nenhuma conta a ajustar com uma entidade que, durante a eternidade anterior, ao aparecimento do universo nada tinha feito (pelo menos não consta) e que depois decidiu sumir-se não se sabe onde.

O cérebro humano é um grande criador de absurdos. Deus é o maior deles." Então falemos hoje de mitos. Para os estudiosos de mitos e folcloristas, entre os quais eu destaco o Nico Fagundes, os mitos são cósmicos, ou seja universais e atemporais. Não se localizam no tempo e no espaço. Referem-se normalmente a fatores fenomenológicos como a natureza e suas forças, a criação do mundo, do homem e da mulher, o bem e o mal e etc. Os mitos nada mais são do que histórias de um certo lugar contadas pelo seu próprio povo.

O povo conta seus mitos para fazer a sua autobiografia e para eternizar suas memórias. Os mitos são depoimentos feitos sobre si e para si mesmo, portanto, a rigor, trata-se de uma confissão e a Igreja descobriu a importância do confessionário muito antes que o Freud criasse a psicanálise que inventou o divã do analista. Ou seja, depor sobre nós mesmos é catártico.

 Não sendo folclorista, acredito que desde que descemos daquela primeira árvore primitiva, começamos a criar mitos na medida em que cresciam nossas perdas e ficavam cada vez mais evidenciadas nossas fraquezas e nossos limites. Precisávamos de um pai super poderoso, que ilimitado nos impusesse limites e nos oferecesse a metáfora da eternidade, uma vez que não conseguíamos combater a morte. Criamos Deus. Com ele surge sua antítese, quase seu alter-ego, ou seja o Diabo.

E depois a coisa continuou. Querem ver?? A Inglaterra é campeã de mitos que surgiram em decorrência da opressão que assolou a história do bretões. A Bretanha ocupada por Roma precisava de um mito. Criou-se Arthur e seus cavaleiros da távola redonda. Arthur, ou Artourius, guerreiro bretão romanizado, haveria de surgir para libertar o povo do invasor e para evitar invasões futuras, principalmente dos povos do norte (germânicos, etc...).

Depois, com a Inglaterra orfanizada pelas aventuras do Rei Ricardo na terra santa, criou-se o mito de Robin Hood. O pai do pobres, justiceiro e paternalista, pois aos filhos dava o pão. Pessoalmente, acho que Arthur encantou-se mais com as curvas da bretã Guenevere do que com as colunas de Roma e por isso ficou por lá. E Robin, deve ter sido um dos tantos ladrõezinhos populistas que aparecem sempre que o povo fica órfão de pai e mãe.

Até hoje existe né??? ou não?? Bem...tem um outro mito que surgiu igualmente no seio de um povo invadido e dominado por Roma.Mas este, não tinha armas nem era douto nas artimanhas da guerrilha. Contudo, era um enviado por obra e glória do senhor de todos os mitos, tendo inclusive nascido de uma virgem, vivido como milagreiro e com poderes de cura sobre todos os males, e morrido para que todos vivessem, ressuscitando no terceiro dia. Enfim... ainda precisamos muito de mitos. Somos cada vez mais órfãos que desacreditam na própria evolução. Esse Saramago era doido...risos Fraterno abraço

Por André Lacerda- Psicanalista

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O DESEJO EM LACAN

A releitura freudiana feita por Lacan é marcada pela influência da filosofia hegeliana, ou melhor, e principalmente, pela análise antropológica da filosofia de Hegel efetuada por Alexandre Kojéve. A partir da análise feita na obra Fenomenologia do Espírito, principalmente do capítulo que ficou conhecido como “Dialética do Senhor e do Escravo”, Lacan desenvolverá, além de outras coisas, a idéia de Desejo. O desejo, que é um vazio, uma falta, só será humano quando se voltar para algo não natural e a única coisa que apresenta tal característica é o próprio desejo.

 O desejo se volta para outro desejo, um vazio a outro vazio, e assim vê-se o desejo superado na sua forma natural, como o surgimento do “desejo do desejo”. Dois desejos animais tornam-se humanos quando se dirigem um ao outro. A citada influência de Hegel em Lacan, se por um lado se materializa na construção da teoria do imaginário, marcantemente na elaboração da teoria do estádio do espelho, por outro aponta seus limites, e por isso abre caminhos para a guinada do simbólico. Na dialética do Senhor e do Escravo, uma das idéias compreendidas é que, na noção de sujeito, a rivalidade é inerente.

 A partir das lições de Kojéve, e da teoria psicanalítica, busca-se reinventar o sujeito cartesiano, autônomo e incondicionado, num sentido contrário: determinado e depen- dente, determinação adequada ao sujeito através da ordem social, o que na dialética hegeliana apareceria reduzida como “o outro”. O desejo humano respeita essa determinação, na medida em que sua origem é pensada como uma negação da sua condição natural, se constituindo como negatividade pura que preside a constituição do sujeito no discurso de Lacan (Lacan, J, (1966) 1998).

 O que não se deve buscar na análise hegeliana de Kojéve é o viés psicanalítico trabalhado por Lacan. Para o psicanalista francês o que está em contraste não é a servidão e a liberdade, autonomia e desautonomia, mas o reconhecimento da assujeitação aos outros imaginários, constitu- tivos e determinantes da sua existência. Na clínica, o sujeito passaria, ou deveria passar, por este caminho, do desconhecimento ao reconhecimento da condição de assujeitação. O sujeito reconhece que o seu desejo é, na realidade, o desejo de um pelo outro. Se esse desejo o impulsiona, sua ação ocorre em função de um outro. É na condição de escravo que ele se encontra. Ponto fundamental no estruturalismo lacaniano, estruturalismo no qual Lacan será um dos vértices na França, é que não há estrutura significante sem sujeito.

 Na teoria de sujeito lacaniana o ser do sujeito é o Desejo, donde se conclui que o Desejo é quem anima a cadeia significante, impulsionando a passagem de um significante a outro. Na constituição do sujeito, porém, salientará Freud que algo escapa à identificação e ao significante, que é o objeto a na teoria de Lacan.

 O objeto a deteria a metonímia e a frearia num ponto em que ela não alcança. Este objeto a é colocado na teoria lacaniana não como um agente do discurso analítico, mas como um dos pilares “onde o sujeito sustenta o seu pseudo- ser, sendo a cadeia significante seu outro pilar”3. O objeto a é um resto do sujeito e do Outro, não podendo se definir a quem pertence.




Por: Alexandre Mendes de Almeida, texto retirado do artigo "O desejo no neurótico"(The Desire in Obsessive Neurotic). Psic. Rev. São Paulo, volume 19, n.1, 33-57, 2010.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A HISTERIA NOS TEMPOS MODERNOS


Por: Ana Suy Sesarino

A Histeria e o Pré-Édipo

Nos dias de hoje a histeria tem se mostrado de forma mais discreta do que nos tempos de Freud, com relação aos sintomas conversivos. Devido a época em que vivemos hoje, onde as mulheres têm mais espaço para expressarem-se na sociedade, os sintomas histéricos já não são mais tão ostentosos. A histeria não desapareceu, mas cada vez mais ela tem sido diagnosticada e tratada como depressão. Isso porque o sujeito histérico procura permanecer em um constante estado de insatisfação. NASIO (1990) afirma que o sujeito histérico não é homem ou mulher, mas é a dor da insatisfação.

A histeria é uma neurose que aparece principalmente através de distúrbios somáticos. NASIO (1990) diz que sofrer histericamente é converter o gozo intolerável e inconsciente num sofrimento corporal, pois o sujeito histérico dá sentido à sua existência através de seu corpo. A histérica desloca a angústia de castração para o corpo, enfatizando-a. E é por isso que é no corpo que aparece o sintoma histérico. Gozo é uma palavra cunhada por Lacan para expressar que nem todo modo de satisfação é vivido de forma prazerosa. Freud utilizava a palavra satisfação para dizer isso; quer dizer que alguém, ao escolher uma particular forma de satisfação, (ou gozo) pode sofrer demais com isso.

Em exemplo clínico, Lucy, uma moça de 25 anos, atendida ao longo do ano na clínica do NPP, buscou atendimento psicoterápico queixando-se de ardência nos ombros e dores nas costas. Trazia consigo um saber sobre isso: dizia que estava com depressão. A hipótese diagnóstica sustentada é de que se trata de um quadro de neurose histérica.O pré-édipo na meninaFREUD (1933) fala que em toda a relação entre uma menina e seu pai, há que se considerar que houve antes, com igual ou maior intensidade, uma relação de amor com a mãe. A menina goza de sua mãe pela alimentação e pelos cuidados corporais. É o mesmo que dizer que são os primeiros cuidados com a criança que introduzem a sexualidade infantil.

A menina somente chega ao amor do pai pela via do amor da mãe. Essa mudança de objeto de amor ocorre a partir da percepção da própria castração. Ou seja, a menina fica em falta da mãe, na entrada de um terceiro na relação, o pai ou aquele que pode ocupar esse lugar. É à medida que o desejo da mãe se volta para esse outro que a menina percebe que não completa a mãe, que não é tudo para a mãe. E só quando se dá conta de que sua mãe não é completa, mas faltante, assim como ela mesma, que então pode abandonar seu apego primário à mãe e tomar o pai como objeto.

Quando ocorre essa mudança de objeto de amor, com a garantia de que a mãe não irá abandoná-la, pois, que já vivenciou a segurança de seu amor, esta mesma mãe passa a ser desprezada e percebida como prescindível. A filha acusa a mãe de não ter cuidado bem dela, de não lhe ter alimentado o suficiente. Freud afirma: “Mais parece que a avidez da criança pelo próprio alimento é completamente insaciável, que a criança nunca supera o sofrimento de perder o seio materno”. (1933, p. 122).

É o que se torna claro quando se escuta Dora de 27 anos. Mesmo afirmando que a mãe deu-lhe de mamar no peito até os 4 anos de idade, ainda assim, sente-se ressentida porque deixou de ser amamentada quando sua irmã caçula nasceu. Sentiu-se trocada! Hipotetiza-se que, se tivesse sido amamentada ao seio da mãe por mais tempo, ainda assim sofreria com o desmame, já que a criança vive tal experiência como uma perda. De acordo com FREUD (1933, p. 123): “Se possível, a conexão com a frustração oral é mantida: a mãe não podia, ou não iria, dar mais leite à criança, porque necessitava do alimento para o recém-chegado (...) o que a criança não perdoa ao indesejado e intruso rival não é apenas a amamentação, mas sim todos os outros sinais de cuidados maternos”.

A demanda de amor da mulher neurótica implica em não haver limites, nunca o que é recebido é suficiente, algo sempre falta. A menina busca a completude através do falo, e como não encontra algo que a preencha, mantém-se eternamente insatisfeita. A menina sofre por perder o seio materno, não importando em que momento isso se dê. Portanto, afasta-se da mãe por via da decepção e do ódio, acusando-a de não ter sido uma boa mãe, pelo fato de tê-la feito incompleta, assim como a própria mãe o é. Freud (1931) diz que a mulher deseja amor ilimitado e posse exclusiva, e não se contenta com menos que tudo. É numa conferência intitulada ‘Feminilidade’ (1933) que Freud afirma que as meninas responsabilizam suas mães pela falta de pênis e não a perdoam por terem sido, deste modo, colocadas em desvantagem.A relação de ódio com a mãe. Segundo MILLOT (1989) a identificação de uma mulher com sua mãe permite perceber duas camadas distintas: a primeira é a pré-edipiana, em que a mãe é tomada como modelo, sobre a qual se apóia a vinculação afetuosa. E a segunda camada, é advinda do complexo de Édipo, quando a menina procura eliminar a mãe e tomar-lhe o lugar junto ao pai.

A escuta de Emmy, possibilita a verificação disso na experiência clínica. Ela relata que gostaria de fugir com o pai a fim de salvar-lhe da mãe, pois o pai merece uma mulher melhor do que a mãe; ou seja, ela mesma.

Para DOR a vinculação da menina ao pai também é clara: “De fato, no discurso histérico, o pai é constantemente significado como objeto de investimento, alternadamente positivo e negativo.” (1993, p. 53)Castração temida X assunção da castração. A dificuldade de resolução, própria do Édipo feminino, resulta da impossibilidade da formação de um ideal do ego feminino, contraditório em seus termos, o ideal implicando a insígnia fálica. A menina se vê, deste modo, confrontada com a inexistência de uma identidade propriamente feminina. Em outras palavras, para retomar a fórmula de Lacan, “a Mulher não existe”.

A menina não nasce mulher, mas deve tornar-se. Uma ligação com a mãe de extrema intensidade pode dificultar, ou até mesmo impedir esse vir a ser, ou seja, tornar-se mulher. Nada pode ser mais doloroso do que renunciar ao amor da mãe, pois é aí que a menina confronta-se com a sua falta, com sua própria inconsistência ou, dizendo melhor, com a inconsistência de sua identidade de gênero.

A menina tem mágoa do pai porque quando sai do Édipo, ele não lhe dá significante feminino algum. No Seminário 3, Lacan (1955, p. 202) diz que: “ o sexo feminino tem uma característica de ausência, de vazio, de buraco, que faz com que aconteça ser menos desejável que o sexo masculino...”

É também Lacan, (1974) que afirma que a posição do homem e da mulher, enquanto conjugal, determina o lugar da criança na estrutura. O pai deverá estar orientado, ao fazer de uma mulher o objeto a, que cause o seu desejo. Isso porque é ao pai que cabe olhar e dizer que a mulher é desejável, para que a menina sinta que ao tornar-se mulher, terá um lugar e uma identidade garantidos. Assim como cabe à mãe possibilitar a entrada do pai no Édipo do bebê, é ao pai que cabe mostrar uma via de feminilidade à menina, dirigindo seu olhar à mãe.

Na prática, Dora, relata que seus pais têm um casamento infeliz. Então, seu pai desabafa com ela, contando-lhe o quanto é insatisfeito no relacionamento com sua mãe. Dessa forma, o pai dificulta seu interesse pelo lugar de uma mulher, uma mulher desejada, ou seja, com lugar garantido na economia do desejo. Para ela torna-se desinteressante identificar-se a uma mulher, tornar-se mulher, o que resulta em uma saída histérica, que pode se dar através do complexo de masculinidade. Isto é, a garota tem seu interesse despertado por atividades masculinas, por exemplo. Isso significa dizer que é o desejo masculino que a captura na tentativa de constituir pra si um lugar de reconhecimento.

Conforme MILLOT (1989, p. 36)
Observa-se a dificuldade da posição da menina no que diz respeito à identificação na saída do Édipo. Para ela, não há identificação ideal possível, se não for à mulher fálica; ora, é justamente uma identificação “pré-edipiana”. Este impasse resulta de que o ideal inclui precisamente o poder fálico. Isto não facilita as relações da menina com a feminilidade, e a conduz geralmente a uma solução próxima à do menino, que se designa pelo termo de complexo de masculinidade.A histérica se instala no desejo do pai, para saber, desde esse lugar, o que a mulher tem de desejável, e para procurar sentir a mesma sensação experimentada por seu pai, já que por ser possuidor de um pênis, o presume possuidor do falo, ou seja, ele ‘pode’ o que quiser! Segundo Nasio, ela acredita, assim, conseguir simbolizar, talvez, o órgão sexual feminino.

Portanto, pode-se pensar que pelo fato da atual sociedade dar espaço para que a mulher fale, os sintomas histéricos estejam mais discretos. Isso porque a conversão histérica é uma forma da mulher dizer o que ela não pode sobre sua feminilidade. É por isso que diz de forma sintomática, ou seja, anuncia que há algo a ser dito, mas que ela não pode dizer. E é para isso que a histérica procura ajuda, para que sua feminilidade possa ser decifrada.

Referências:
FREUD, S. Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1969.
__Volume XXI – Sexualidade feminina
__Volume XXII – A feminilidade
LACAN, J. RSI. Inédito. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, (1974-5).
LACAN, J. As psicoses. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.
MILLOT, C. Nobodaddy a histeria no século: Jorge Zahar Editor, 1989.
NASIO, J. A histeria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Porco-espinho/Homem...


Um grupo de porcos-espinhos
num frio dia de inverno
se aglomerou para, através do aquecimento
recíproco, não morrer de frio. Contudo, logo
começam a sentir os espinhos uns dos outros, o que
os leva então a se afastarem novamente. Quando a
necessidade de aqueciment
o os aproxima mais uma
vez, repete-se aquele segundo
infortúnio. Neste vai-
e-vem em meio aos dois sofrimentos, seguem até
encontrarem uma distância segura entre eles, na qual
podem melhor suportá-los. Do mesmo modo os
homens são impelidos uns aos outros pelas
necessidades da sociedade, de cujo seio surgem o
vazio e a monotonia. Entretanto, suas
particularidades assaz desagradáveis e defeitos
insuportáveis os afastam mais uma vez. A distância
mediana ao fim encontrada,
na qual podem se reunir,
são a polidez e os bons co
stumes (...) Quem no
entanto tem muito de seu calor interno prefere ficar
longe da sociedade, para não ser incomodado e não
causar incômodo. 
Arthur Schopenhauer (Parerga e Paralipomena II)