domingo, 30 de junho de 2013

Gays e Heterossexuais Incuráveis...

Apesar dos anos vividos, ainda me surpreendo com a estupidez humana.

Os crentes dizem que Deus houve por bem limitar-nos a inteligência, para impedir que bisbilhotássemos seus domínios. Se assim agiu, pena não lhe ter ocorrido impor limites para a burrice dos seres que criou à sua imagem e semelhança.

Um grupo de deputados reunidos na Comissão de Direitos Humanos, presidida por um evangélico sem nenhuma aparência de homem fervoroso, aprovou o projeto conhecido como "cura gay", que assegura aos psicólogos o direito de aplicar métodos de tratamento destinados a transformar homo em heterossexuais, e de apregoar aos incautos a cura da homossexualidade, práticas condenadas pelo Conselho Federal de Psicologia e por todas as pessoas com um mínimo de discernimento.

Em todos os povos conhecidos, uma parcela de indivíduos em alguma fase da vida experimentou orgasmo por meio da estimulação dos genitais realizada por uma pessoa do mesmo sexo.

A incidência da homossexualidade varia de acordo com o grupo social. Um estudo clássico dos anos 1950 mostrou que em cerca de 60% das populações pesquisadas o comportamento homossexual é aceito sem restrições. Na África, entre os povos Siwan, e no sudoeste do Pacífico, entre os melanésios, virtualmente todos os homens praticaram sexo com outros homens em algum estágio da vida.

As 40% restantes vivem em países nos quais a homossexualidade é objeto de tabu social. As nações industrializadas se enquadram nesse grupo minoritário.

Embora os dados nem sempre confirmem com exatidão, a homossexualidade masculina parece ser duas a três vezes mais prevalente do que a feminina, em todas as sociedades até hoje avaliadas.

A maioria esmagadora dos indivíduos que experimentam orgasmos com pessoas do mesmo sexo são bissexuais. No Ocidente, homossexualidade pura, caracterizada pela ausência de práticas sexuais com o sexo oposto durante a vida inteira, ocorre em apenas 1% da população.

Comportamento homossexual tem sido descrito em répteis, pássaros e mamíferos, animais que na evolução divergiram há mais de 100 milhões de anos. Uma parte dos machos e fêmeas de todas as espécies de aves estudadas têm relações sexuais com indivíduos do mesmo sexo. Em muitas ocasiões, essas práticas terminam em orgasmo de apenas um ou dois dos parceiros.

Nos mamíferos, a maioria das relações homossexuais entre as fêmeas acontece quando uma parceira monta sobre a outra, comportamento já documentado em pelo menos 70 espécies: ratos, hamsters, coelhos, martas, gado, carneiros, cavalos, antílopes, porcos, macacos, chimpanzés, bonobos, leões etc.

Há mais de um século e meio, Charles Darwin nos ensinou que uma caraterística presente em diversas espécies distintas indica que foi herdada de um ancestral comum, portador do mesmo traço. Podemos garantir que o ancestral que deu origem aos vertebrados tinha dois globos oculares, caraterística herdada por todos os animais com esqueleto.

O paralelismo é óbvio, prezadíssimo leitor: se o comportamento homossexual está documentado em animais tão distintos quanto répteis, aves e mamíferos, é porque a homossexualidade é mais antiga do que a humanidade.

Certamente, já existiam hominídeos homo e bissexuais 5 a 7 milhões de anos atrás, quando nossos ancestrais resolveram descer das árvores nas savanas da África. Está coberta de razão a sabedoria popular ao dizer que a homossexualidade é mais velha do que andar a pé.

Sempre houve e haverá mulheres e homens que desejam pessoas do mesmo sexo, porque essa é uma característica inerente à condição humana. Com persistência e determinação, eles podem controlar o comportamento sexual, mas o desejo não. O desejo é uma força da natureza mais íntima de cada um de nós; é água que corre montanha abaixo.

Os fatores genéticos e as interações sociais envolvidas no comportamento sexual são de tal complexidade que só a ignorância crassa é capaz de propor simplificações.

Eu, que sempre coloquei em dúvida a masculinidade daqueles excessivamente preocupados ou ofendidos com a homossexualidade alheia, gostaria de saber em que porta de botequim os nobres deputados ouviram falar que o homossexual é um doente à espera de tratamento psicológico.

 
Drauzio Varella

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Curitiba

Manhã fria e mais um dia para enfrentar.
A mesma rotina, morrer talvez, ou matar.
Sentindo-me bem no lugar de onde eu sou
Queixo erguido e para a luta eu vou.

Rua XV deserta - manhã de Julho gelada.
Noite longa estrelada. Na grama a geada.
Café em pé, calçadão. Pinhão na pedra do chão.
Ônibus vermelho, nevoeiro e atenção!

Povo forte, terra fria e sangue quente.
Gente limpa, honesta e decente.
Que tem orgulho daquilo que é só seu.
De viver feliz na terra aonde nasceu.

Para estranhos arrogância e antipatia.
Se não fosse assim, o que mais você queria?
Chegar, pegar, tomar conta do meu lugar?
Se você pensa assim está na hora de voltar.

Cerveja escura, no pub da São Francisco.
92, Cruz Machado é a eterna boca do lixo.
Futebol, churrasco. Santa Felicidade.
Tudo que eu mais gosto é melhor na minha cidade.

Povo forte, terra fria e sangue quente.
Gente limpa, honesta e decente.
Que tem orgulho daquilo que é só seu.
De viver feliz na terra aonde nasceu.


Letra: Mão de Ferro

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Desapego

"Os efeitos podem demorar a aparecer, mas continue com a dosagem."

terça-feira, 25 de junho de 2013

Zaratustra...

Zaratustra desceu sozinho das montanhas sem encontrar ninguém. Ao chegar aos bosques deparou-se-lhe de repente um velho de cabelos brancos que saíra da sua santa cabana para procurar raízes na selva. E o velho falou a Zaratustra desta maneira:
“Este viandante não me é desconhecido: passou por aqui há anos. Chamava-se Zaratustra, mas mudou.
Nesse tempo levava as suas cinzas para a montanha. Quererá levar hoje o seu fogo para os vales? Não terá medo do castigo que se reserva aos incendiários?
Sim; reconheço Zaratustra. O seu olhar, porém, e a sua boca não revelam nenhum enfado. Parece que se dirige para aqui como um bailarino!
Zaratustra mudou, Zaratustra tornou-se menino, Zaratustra está acordado. Que vais fazer agora entre os que dormem?
Como no mar vivias, no isolamento, e o mar te levava. Desgraçado! Queres saltar em terra? Desgraçado! Queres
tornar a arrastar tu mesmo o teu corpo?”
Zaratustra respondeu: “Amo os homens”.
“Pois por que – disse o santo – vim eu para a solidão? Não foi por amar demasiadamente os homens?
Agora, amo a Deus; não amo os homens.
O homem é, para mim, coisa sobremaneira incompleta. O amor pelo homem matar-me-ia”.
Zaratustra respondeu: “Falei de amor! Trago uma dádiva aos homens”.
“Nada lhes dês – disse o santo. – Pelo contrário, tira-lhes qualquer coisa e eles logo te ajudarão a levá-la. Nada lhes convirá melhor, de que quanto a ti te convenha.
E se queres dar não lhes dês mais do que uma esmola, e ainda assim espera que tá peçam”.
“Não – respondeu Zaratustra; – eu não dou esmolas. Não sou bastante pobre para isso”.
O santo pôs-se a rir de Zaratustra e falou assim: “Então vê lá como te arranjas para te aceitarem os tesouros.
Eles desconfiam dos solitários e não acreditam que tenhamos força para dar.
As nossas passadas soam solitariamente demais nas ruas. E, ao ouvi-las perguntam assim como de noite, quando, deitados nas suas camas, ouvem passar um homem muito antes do alvorecer: Aonde irá o ladrão?
Não vás para os homens! Fica no bosque!
Prefere à deles a companhia dos animais! Por que não queres ser como eu, urso entre os ursos, ave entre as
aves?”.
“E que faz o santo no bosque?” – perguntou Zaratustra.
O santo respondeu: “Faço cânticos e canto-os, e quando faço cânticos rio, choro e murmuro.
Assim louvo a Deus.
Com cânticos, lágrimas, risos e murmúrios louvo ao Deus que é meu Deus. Mas, deixa ver: que presente nos trazes?”.
Ao ouvir estas palavras, Zaratustra cumprimentou o santo e disse-lhe: “Que teria eu para vos dar? O que tens a fazer é deixar-me caminhar, correndo, para vos não tirar coisa nenhuma”.
E assim se separaram um do outro, o velho e o homem, rindo como riem duas criaturas.
Quando, porém, Zaratustra se viu só, falou assim, ao seu coração: “Será possível que este santo ancião ainda não ouvisse no seu bosque que Deus já morreu?”

Assim Falava Zaratustra - Friedrich Nietzsche

domingo, 16 de junho de 2013

Falso Self

Por: Juliana Horta

A voz, o toque e os primeiros contatos com o infante provém de sua mãe. É na amamentação do peito materno que a criança estabelece o vínculo afetivo e define a sua segurança emocional para o seu desenvolvimento psíquico adequado.
Sendo o rosto da mãe, o primeiro espelho da criança, sem dúvida alguma, quando esta fracassa na manutenção das necessidades primárias de seu filho (infante), algo instaura-se em sua personalidade para protegê-lo deste isolamento afetivo.
A personalidade recorre ao que chamamos de “ipso facto”, a personalidade do “falso self”.
É certo que esta mãe, inábil no cuidado com seu filho, não encontra em si mesma, a possibilidade de acessar o “self” verdadeiro, que representa a fonte de sua própria espontaneidade e sensibilidade e de contato com seus conteúdos inconscientes e o seu manancial de sabedoria.
Possivelmente, o enrijecimento desta mãe, decorrente de algum complexo, a remete à impossibilidade com sua própria feminilidade, não permitindo que encontre em si mesma os recursos para confrontar-se com seu inconsciente. 
Muito provavelmente, esta mãe não deva ter recebido, ela mesma, os cuidados que lhe permitissem cuidar.
O filho, para proteger-se da rigidez das próprias defesas de sua mãe, acaba por desenvolver um ”falso self”.
É na sua total ansiedade, insensibilidade, desatenção, hipocondria, manias, depressões, que esta mãe fracassa em atender e assistir as necessidades primárias de seu bebê.
Com o Verdadeiro “Self” encapsulado e oculto, o filho desta mãe, distancia-se da expressão e contato com a realidade.
Sua vida adulta passa a ser vivida através de uma fachada falsa, adaptativa e o indivíduo passa com facilidade a assumir papéis, por sua imensa facilidade e tendência às imitações, identificações e atender às exigências do meio externo.
O indivíduo vive em relação a algo que não é legitimamente seu, perde a sua originalidade, vive um estado de não ser, agindo como ator, representando e alimentando-se de futilidades.
No grupo social, se comporta de maneira envolvente, sedutora, porém indiferente às questões alheias e sociais.
Encanta os demais por sua arte em agradar e é considerado como alguém que é a mais normal de todas as pessoas, um indivíduo acima de qualquer suspeita, não sendo raro, encontrarmos um “falso self”, em profissões importantes, tais como a Política, por exemplo.
Em termos muito gerais, há várias gradações de “falso self”, sendo esta defesa, em alguma medida, necessária até à  sobrevivência social.
Porém, a questão do “falso self” se apresenta como um problema clínico, de ordem psicoterapêutica quando o ”falso self” se instala como prótese do verdadeiro “Self” para protegê-lo de angústias impensáveis, fazendo com que o indivíduo perca (ou, que, nunca tenha podido ter) totalmente o contato com a fonte de sentido e vitalidade, que é própria do “Self” verdadeiro.
Nesse caso, através de uma organização defensiva, o indivíduo opera no mundo a partir de uma reação ao ambiente, comportando-se de maneira adaptativa, adequando-se em relação àquilo que ele infere ser esperado dele, mas sem, de fato, experienciar a vida.
Essa organização defensiva acontece para proteger o verdadeiro “Self” de invasões que, do ponto de vista do ego, seriam intoleráveis.
Porém, o indivíduo entra em angústia quando a sua realidade passa a não fazer sentido e ele percebe que sempre acaba por substituir o sentimento de sua experimentação pela vida pela imitação do que seria esta possibilidade.
A sua vida, segundo Winnicott, é experimentada como um sobreviver sem viver, uma vida fútil, nula e em branco.
A conseqüência negativa desta forma de se organizar é a manutenção de um sentimento de não existir, de não ter contornos.
A única defesa (automática)  é o uso da máscara sem a qual fracassa no lidar com seus afetos, retirando-se num estado esquizo-afetivo para um mundo vazio de significados à procura do que lhe fora um dia negado pelo ambiente que já o aguardava antes mesmo de nascer.
Ao confrontar situações limites, tenderá a proteger-se, manter silêncio, dissimular, mentir.
E, às vezes, como recurso extremo, será obrigado (inconscientemente) a se exilar no território das patologias.
É sugerido, na literatura, que a etiologia do “falso self” se funda na violência. Pode não se tratar da truculência explícita da tortura, do crime, das guerras, da produção de miséria material, mas, sim, da violência ancorada na incapacidade de empatizar com o outro.
Jung propôs formulações sobre o fenômeno do Self enquanto possibilidade de abertura ao inconsciente coletivo, requerendo a integração de aspectos que transcendem um funcionamento meramente pessoal.
Apontou que o contato com o verdadeiro “Self” requer um indivíduo engajado consigo mesmo, com recursos pessoais que possam permiti-lo dar conta de atravessar os labirintos abrigados em si mesmo, simbolizando seus processos, caminhando no sentido, não de dissecar o mistério, mas abarcá-los em si.
Desse modo, Jung enfatiza a necessária coragem implicada no processo de individuação que, em última instância, implica o contato com uma solidão básica e essencial.
Winnicott ressalta que, embora não possamos escapar da angústia inerente ao existir (na qual está implicada uma solidão básica e essencial), a possibilidade de alguma independência e autonomia só pode ser obtida a partir da existência do outro, pois, desde o absoluto início, dependemos do cuidado generoso de alguém.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Sobre o dia dos namorados... (enamorados)

De Martha para Freud
"As profundezas da minha alma percorre, como silenciosa prece noturna, um doce pensar em ti.
(...) Agora, meu amado – agora quero beijar você com o meu coração e sussurraria tantas coisas em seu ouvido que pareceriam tão tolas e loucas no papel – ninguém nos ouvia e ninguém nos via, e nem mesmo um esquilo curioso e envergonhado nos perturbava - , mas não quero sobrecarregar meu coração com pensamentos de como tudo poderia ser ainda mais bonito – eu amo você também de longe e me alegro como uma criança com suas doces cartinhas “pacíficas”
(...) E, se por acaso ocorrer a você duelar comigo depois, isso também não será possível, e sua boca será fechada – você já sabe com o quê.
(...) Fique bem, meu amado, fique feliz e alegre como
Sua Martha"

De Freud para Martha
"Minha doce Marthinha,
De verdade, minha doce menina: cada linha de sua carta renova em mim o orgulho de ter conquistado você, de poder servir por você.
(...) Sua carta está à minha frente e eu penso como parecem graciosas até mesmo as contradições que há em você, quão belos são os temas, até mesmo onde mais discordamos, e como as nobres palavras de Antígona de Sófocles parecem ter sido pronunciadas inteiramente para você: “É para amar com você, e não para odiar com você, que eu estou aqui”.
(...) Por isso, fique sabendo que eu penso que, de verdade, você não me ama mais do que eu amo você. Se eu imagino minha vida atual sem você, tudo desaba, por falta de sustentação e de interesse.
Você é a meta à qual eu me dirijo, o ponto de convergência de todos os meus desejos
(...) Você pertence inteiramente a mim, e você já percebeu que não estou disposto a dividir você com ninguém. Com cordiais saudações à doce amada,
Sigmund"


...

Amar verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma verdade sobre si. Em outras palavras, amamos alguém porque (no fundo, inconscientemente) esperamos encontrar alguma resposta sobre nós mesmos, sobre quem nós somos." (Jacques-Alain Miller)

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Sou...

Nenhum homem é uma ilha
nenhuma ilha é um indivíduo
a mente única compartilha
o todo, a parte e o resíduo.

Sou, em minha estrutura orgânica,
ruído disperso, incompreensível
porém parte da melodia harmônica
da orquestra holística indivisível.

Cresço, enquanto fruto do meio.
Da sociedade sou lixo e enfeite,
paradoxalmente eu ofereço o seio
e me alimento de meu próprio leite.

Da mão, sou o dedo em riste.
Da humanidade, simples rascunho.
No entanto, enquanto o todo existe,
faço parte do forte punho.

Minha voz é murmúrio equivocado
enquanto grito só e a esmo.
Unida a outras é forte brado,
sendo assim, sou eco de mim mesmo.



Mauro Gouvêa

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Breve pensamento psicanalitico sobre fobia social...

Fobia social é um xadrez onde você joga contra você mesmo.

Não existe inimigo lá fora que chegue aos pés do que existe dentro de você. Se você bater no adversário, você enfraquece.


É mais uma questão de inteligência e estratégia, do que de força. (Peter Slaviero)